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domingo, 8 de julho de 2012

O SERTÃO EM PROSA: "A PALO SECO"


                                 IMAGEM: INTERNET (Aleborges Fotografia)
Quando eu tinha 14 anos, quase 15. Lembro-me que comprava numa banquinha de revistas da cidade alguns gibis do Tex Willer, queria ser fortão igual a ele, comprava junto dos gibis, aquelas revistinhas populares que não tinham texto, só fotos de mulheres famosas e bonitas (sem roupa, é claro). Bem, é verdade que também comprava a Placar com o intuito de acompanhar meus ídolos, já que havia me desiludido quanto ao sonho de ser jogador de Futebol.

E, sim, eu vou revelar outro segredo, naquela época o meu cantor preferido era o Renato Russo da Legião Urbana, que hoje não consigo mais ouvir nem por meia hora sequer (não preciso dizer que agora o meu cantor preferido é o Chico Buarque). E não muito diferente de hoje, tinha sonhos e fazia mil e uma novelas viajosas na minha cabeça. Por ironia da vida, agora detesto novela. Não apenas porque já bastam as minhas invencionices, mas porque as minhas são muito mais legais que os boçais folhetins globais.

Nesse período eu sonhava com meus dezenove anos. Quando você tem 15 anos, ter dezenove faz muuuuuita diferença. Ia dirigir o meu carro, ter uma tatuagem da capa do disco The Dark Side Of The Moon do Pink Floyd no braço super forte e malhado, fumar – dirigir fumando, propriamente -, ouvindo Roberto Carlos cantando as curvas da estrada de Santos, e estaria cursando jornalismo. Teria cabelos encaracolados, estilo surfista de propaganda de creme dental – que atrairia todas as garotas. Sim, eu seria O CARA (igual como dizem ser o Neymar hoje!). Anos mais tarde, eu já seria muito velho. Com uns vinte e poucos. Trabalharia numa redação loucamente e já estaria na minha quinta, ou sexta namorada.

Hoje, já canto A palo seco, e meus sonhos não chegaram a debutar. Porque – graças a Deus! – eles amadureceram. Fumei um cigarro ou outro na vida, um tal de Gudan - a última vez (tirando duas tragadas póstumas de brincadeira, não conta, vai) foi aos dezoito anos e nem me lembro onde. Quanto aos meus cabelos, cresceram um pouco, mas não ficaram iguais aos dos surfistas de propaganda de creme dental. Não tenho carro (quero comprar um Fusca – gosto de coisas antigas). Não fiz jornalismo, mas cursei Letras e descobri que a profissão de professor de literatura não é tão romântica assim, ao contrario pode vir a ser realista que nem a classificação dos livros do Machado de Assis, porém é uma profissão que me inspira os sonhos mais bonitos e mais concretos. E a tatuagem? Não fiz, também meus braços continuam finíssimos como os do personagem Salsicha do desenho do Scoob-Doo, quem sabe daqui a 15 anos eles estejam malhados e fortes, aí eu vou e faço a tal da tatuagem. Para finalizar, como vocês já constaram não vim a ser O CARA, e as garotas não fazem fila atrás de mim.


 Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE.
Cordenador do Projeto Papo Cultural promovido pela ONG IPHANAQ.
 
Escreve aos domingos como colaborador na categoria O SERTÃO EM PROSA





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