Quando olhei para o livro, já
gostei de cara. De cara mesmo, pois a capa me atraiu demais. Então vi o
nome do autor e lembrei dele em algumas disciplinas da faculdade de
Letras. Pode ser que naquele tempo eu já soubesse que ele poderia
escrever um livro, porém, naquele momento tão prazeroso e ao mesmo tempo
eufórico em minha vida, não dei importância a essa minha – tão
invisível e íntima – percepção.
Alguns amigos meus já haviam
lido o livro e dito coisas boas. Então fiquei muito curioso. Reservei um
exemplar no Saraiva (livreiro da FECLESC) e fiquei à espreita, louco
para atacar suas páginas. A alegria não veio porém com a espera, veio
bem antes, quando – ao realizar o jogo ODISSEIA LITERÁRIA – Bruno
Paulino doou 03 exemplares de seu livro para mim, sendo que 02 para o
game e 01 para mim. Fiquei muito feliz, pois não tem coisa melhor nesse
mundo que ganhar livros de presente.
Então pensei comigo, tenho
que tirar um tempo especial para lê-lo. Então esperei o tempo propício e
pra quê tempo mais propício do que uma viagem ao próprio Quixeramobim?
(quem não entendeu, entenderás e gostarás muito ao ler o livro).
A bordo do ônibus, pus meus fones de ouvido, me ajeitei na poltrona e comecei a leitura.
É
uma leitura leve, fácil, descontraída, que nos leva a um tempo em que
as pessoas davam valor a arte das palavras, do falar, do contar
histórias. Lá Nas Marinheiras e outras crônicas, é um livro para se ler
balançando numa rede. Eu não tinha uma rede no momento, mas o ônibus
balançava demais, então decidi prosseguir com a leitura.
Logo
nas primeiras crônicas mergulhamos em uma narrativa dotada de poesia e
de sentimentos, pois o autor nos evoca a sua terra e a presença de seu
avô. Lá Nas Marinheiras... me lembrou muito a minha terra onde passei a
maioria da minha infância, tempo em que se caçava de baladeira – aqui eu
peço desculpas, sim, eu já matei passarinho e por mais que eu goste do
sentimento e poesia adotado na crônica, para mim, matar passarinho na
infância é uma espécie de ritual. – e a crônica, pequena e mágica me
seduziu. Tão como a de seu avô, avô de Bruno, poeta e Patativa.
Outras
coisas forma me chamando atenção nas letras de Paulino: uma delas, a
que me fez rir deveras, foi a crônica de dona Carminha, a secretária da
Casa Paroquial. Acreditem, na minha cidade a Secretaria Paroquial também
se chama Carminha e está no cargo, também, há 44 anos. Então eu percebi
que o livro vali a apena ser lido, não por eu gostar de leitura, mas
pelas memórias que As Marinheiras propiciava a mim mesmo. E pensando
assim, tal como o autor, eu me vejo a indagar juntamente com a sua 4ª
crônica “não seria as Marinheiras também uma Pasárgada?”. Para mim, ela é
sim, dotada de recordações que me lembram o meu velho Caro Quebrado,
comunidade ode fiz muitas travessuras, onde matei passarinho, onde
mergulhei no açude e onde vi ele desaparecer para dar lugar as muitas
casas e a cidade, mas nas minhas lembranças e em meu coração, ele é como
a poesia e as marinheiras, ele permanece, ele é atemporal.
Mais
adiante fui percebendo e conhecendo mais do próprio autor, pois ele faz
muito disso em seus livros, como já disse a velha Rachel de Queiroz
“Quer me conhecer? Leias as minhas crônicas” (perdoe-me se me equivoco
na autoria da citação) mas é justamente isso que o leitor faz ao ler
algumas crônicas de Paulino, conhecê-lo. E conhecer parece ser ruim?
Não. Jamais, quando se conhece alguém por meio de Chico Buarque,
Patativa, Nilo e tantos outros nomes reconhecidos por sua arte, nunca
será uma perda de tempo.
Quixeramobim é o tema central da obra,
embora os gostos do autor tome um pouco do foco, mas é dessa terra- que
eu aprendi a gostar – que vamos nos aproximando, é de Quintino Cunha que
vamos nos afeiçoando, é do calor que vamos reclamando e porque não
dizer que dos ET´s também? Pois é, Paulino também toca nesse ponto, pois
quando se fala em Quixeramobim, é inevitável falar nesses seres não é?
Da vila para Quixeramobim, quando li o título da 8ª crônica (Já chegou o
disco voador?) não me contive a dar uma bela “gaitada”.
Á
sombra de um pé de cajá e a crônica À sombra do juazeiro foram especiais
para mim: a primeira porque me evocava os tempos de festas no sertão
onde vivi por muito tempo e a segunda pelo belo roteiro pelo qual
passaram os avós paternos de Paulino para ficarem juntos. Um roteiro
típico de comédias românticas . Muito linda a história.
Embora
eu ainda não saiba o que o grilo quis dizer, fiquei feliz em perceber
que estava chegando a Quixeramobim, pois através das crônicas eu me
aproximava mais da cidade. É claro que ao citar Harry Potter, Pink
Floyd, também ajudaram (risos).
Bom, mas não vou falar só de
coisas boas, senão vão pensar que estou “puxando o saco” para ganhar
mais livros (mais risos). Embora eu tenha gostado tanto do livro, algo
me inquietou, claro que o autor tem total liberdade, porém, o leitor
também a tem e mais, ele é quem vai sentir aquilo que o autor escreveu
com mais veracidade, com mais força que o próprio autor. Então, não
gosto muito de Roberto Carlos, nem do Faustão, muito menos de Huck ou
Bial, mas algo não me fez bem quando eles foram citados de maneira
pejorativa. A leitura até que fluía bem, mas algo, nesses pontos me
inquietava. E se eu gostasse deles? Era nesses momentos que a poesia se
esvaia de mim...
Para concluir, quero dizer que através do livro
percebi que muitas pessoas podem se parecer comigo, podem ter quarto
(des)arrumado, podem ser chatos, ou simplesmente podem ainda ter desejos
de retornar aos tempos de outrora. De Quixeramobim, fui a outra idade
que prezo de coração: Ibicuitinga. Aí sim, nessa cidade eu tive a
oportunidade de me deitar numa rede e ler Lá Nas Marinheiras novamente..
Parabéns a Bruno Paulino e obrigado a todas as recordações que me
propiciastes reviver. Obrigado pela poesia, pelas semelhanças, e
obrigado também pelos momentos de discussões com suas próprias palavras.
Um abraço de seu mais novo leitor.
Cosme Alves é Graduando em Letras pela Feclesc/Uece e pós graduando em Literatura e Formação do Leitor.
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