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domingo, 6 de janeiro de 2013

MARINHEIRAS: A Terra de Cada um



Quando olhei para o livro, já gostei de cara. De cara mesmo, pois a capa me atraiu demais. Então vi o nome do autor e lembrei dele em algumas disciplinas da faculdade de Letras. Pode ser que naquele tempo eu já soubesse que ele poderia escrever um livro, porém, naquele momento tão prazeroso e ao mesmo tempo eufórico em minha vida, não dei importância a essa minha – tão invisível e íntima – percepção.

Alguns amigos meus já haviam lido o livro e dito coisas boas. Então fiquei muito curioso. Reservei um exemplar no Saraiva (livreiro da FECLESC) e fiquei à espreita, louco para atacar suas páginas. A alegria não veio porém com a espera, veio bem antes, quando – ao realizar o jogo ODISSEIA LITERÁRIA – Bruno Paulino doou 03 exemplares de seu livro para mim, sendo que 02 para o game e 01 para mim. Fiquei muito feliz, pois não tem coisa melhor nesse mundo que ganhar livros de presente.

Então pensei comigo, tenho que tirar um tempo especial para lê-lo. Então esperei o tempo propício e pra quê tempo mais propício do que uma viagem ao próprio Quixeramobim? (quem não entendeu, entenderás e gostarás muito ao ler o livro).
A bordo do ônibus, pus meus fones de ouvido, me ajeitei na poltrona e comecei a leitura.
É uma leitura leve, fácil, descontraída, que nos leva a um tempo em que as pessoas davam valor a arte das palavras, do falar, do contar histórias. Lá Nas Marinheiras e outras crônicas, é um livro para se ler balançando numa rede. Eu não tinha uma rede no momento, mas o ônibus balançava demais, então decidi prosseguir com a leitura.

Logo nas primeiras crônicas mergulhamos em uma narrativa dotada de poesia e de sentimentos, pois o autor nos evoca a sua terra e a presença de seu avô. Lá Nas Marinheiras... me lembrou muito a minha terra onde passei a maioria da minha infância, tempo em que se caçava de baladeira – aqui eu peço desculpas, sim, eu já matei passarinho e por mais que eu goste do sentimento e poesia adotado na crônica, para mim, matar passarinho na infância é uma espécie de ritual. – e a crônica, pequena e mágica me seduziu. Tão como a de seu avô, avô de Bruno, poeta e Patativa.

Outras coisas forma me chamando atenção nas letras de Paulino: uma delas, a que me fez rir deveras, foi a crônica de dona Carminha, a secretária da Casa Paroquial. Acreditem, na minha cidade a Secretaria Paroquial também se chama Carminha e está no cargo, também, há 44 anos. Então eu percebi que o livro vali a apena ser lido, não por eu gostar de leitura, mas pelas memórias que As Marinheiras propiciava a mim mesmo. E pensando assim, tal como o autor, eu me vejo a indagar juntamente com a sua 4ª crônica “não seria as Marinheiras também uma Pasárgada?”. Para mim, ela é sim, dotada de recordações que me lembram o meu velho Caro Quebrado, comunidade ode fiz muitas travessuras, onde matei passarinho, onde mergulhei no açude e onde vi ele desaparecer para dar lugar as muitas casas e a cidade, mas nas minhas lembranças e em meu coração, ele é como a poesia e as marinheiras, ele permanece, ele é atemporal.
Mais adiante fui percebendo e conhecendo mais do próprio autor, pois ele faz muito disso em seus livros, como já disse a velha Rachel de Queiroz “Quer me conhecer? Leias as minhas crônicas” (perdoe-me se me equivoco na autoria da citação) mas é justamente isso que o leitor faz ao ler algumas crônicas de Paulino, conhecê-lo. E conhecer parece ser ruim? Não. Jamais, quando se conhece alguém por meio de Chico Buarque, Patativa, Nilo e tantos outros nomes reconhecidos por sua arte, nunca será uma perda de tempo.

Quixeramobim é o tema central da obra, embora os gostos do autor tome um pouco do foco, mas é dessa terra- que eu aprendi a gostar – que vamos nos aproximando, é de Quintino Cunha que vamos nos afeiçoando, é do calor que vamos reclamando e porque não dizer que dos ET´s também? Pois é, Paulino também toca nesse ponto, pois quando se fala em Quixeramobim, é inevitável falar nesses seres não é? Da vila para Quixeramobim, quando li o título da 8ª crônica (Já chegou o disco voador?) não me contive a dar uma bela “gaitada”.
Á sombra de um pé de cajá e a crônica À sombra do juazeiro foram especiais para mim: a primeira porque me evocava os tempos de festas no sertão onde vivi por muito tempo e a segunda pelo belo roteiro pelo qual passaram os avós paternos de Paulino para ficarem juntos. Um roteiro típico de comédias românticas . Muito linda a história.

Embora eu ainda não saiba o que o grilo quis dizer, fiquei feliz em perceber que estava chegando a Quixeramobim, pois através das crônicas eu me aproximava mais da cidade. É claro que ao citar Harry Potter, Pink Floyd, também ajudaram (risos).
Bom, mas não vou falar só de coisas boas, senão vão pensar que estou “puxando o saco” para ganhar mais livros (mais risos). Embora eu tenha gostado tanto do livro, algo me inquietou, claro que o autor tem total liberdade, porém, o leitor também a tem e mais, ele é quem vai sentir aquilo que o autor escreveu com mais veracidade, com mais força que o próprio autor. Então, não gosto muito de Roberto Carlos, nem do Faustão, muito menos de Huck ou Bial, mas algo não me fez bem quando eles foram citados de maneira pejorativa. A leitura até que fluía bem, mas algo, nesses pontos me inquietava. E se eu gostasse deles? Era nesses momentos que a poesia se esvaia de mim...

Para concluir, quero dizer que através do livro percebi que muitas pessoas podem se parecer comigo, podem ter quarto (des)arrumado, podem ser chatos, ou simplesmente podem ainda ter desejos de retornar aos tempos de outrora. De Quixeramobim, fui a outra idade que prezo de coração: Ibicuitinga. Aí sim, nessa cidade eu tive a oportunidade de me deitar numa rede e ler Lá Nas Marinheiras novamente..

Parabéns a Bruno Paulino e obrigado a todas as recordações que me propiciastes reviver. Obrigado pela poesia, pelas semelhanças, e obrigado também pelos momentos de discussões com suas próprias palavras.
Um abraço de seu mais novo leitor.

Cosme Alves é Graduando em Letras pela Feclesc/Uece e pós graduando em Literatura e Formação do Leitor.

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