O professor de Matemática, Pereira Neto, utilizava o quadro na aula especial para dar explicações trigonométricas sobre secantes, mas o que todos queriam mesmo era a solução para outro problema, a seca da fossa. A aluna do curso de Pedagogia, Ana Gelsa Sabino, não se conformava, além de não entender nada de Geometria, ainda era obrigada a viajar mais de 70km para aguentar o mau cheiro todos os dias. Ela mora em Ocara.
De acordo com os professores Deribaldo Santos e Tereza Russo, não é de hoje que a administração da Uece tem desprezado o campi de Quixadá. A falta de estrutura para as aulas dos acadêmicos, só não é maior porque todos se unem em busca de soluções. Eles reconhecem o esforço do professor Jorge Alberto, atual diretor da Feclesc, entretanto o campi não possui recursos econômicos próprios. Se precisar de um giz é obrigado a recorrer à direção da Uece, na Capital.
Segundo o professor Jorge Alberto, ao saber da manifestação dos alunos e professores, a Uece autorizou a contratação de um caminhão limpa-fossa, da Cagece. Ele enviou vários ofícios ressaltando a necessidade urgente do serviço, o qual deve ser realizado constantemente. Só foi atendido quando todos resolveram reclamar. "A Feclesc possui mais de 1.200 alunos. Mais de 70% são do sexo feminino. O banheiro é muito utilizado por elas", salienta o diretor. A Feclesc foi inaugurada em Quixadá em 1983. Sua principal função é a formação de professores para as redes de Ensino Fundamental e Médio. Dentre os cursos oferecidos estão de Biologia, Física, História, Letras, Matemática e Química. No próximo semestre, um novo curso será implantado, o de Música. Porém, será aberto apenas para professores da rede pública. Todavia, se as duas salas de aula em construção não estiverem prontas, haverá dificuldade para receber os novos alunos. "Um problema a mais", destaca o diretor.
Formação
Atualmente, além dos cinco campus na Capital, e do campi de Quixadá, a Uece possui unidades de formação superior em Crateús, Iguatu, Itapipoca, Limoeiro do Norte e Tauá. São respectivamente a Faculdade de Educação de Crateús, Faculdade de Ciências de Iguatu, Faculdade de Educação de Itapipoca, Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos e o Centro de Ciências e Tecnologia dos Inhamuns. São mais de 11 mil alunos em Fortaleza e cerca de 16 mil no Interior.
Para manter todas as unidades, o Governo do Estado disponibiliza cerca de R$ 15 milhões. Segundo o pró-reitor de Administração da Uece, Luiz Carlos Dodt, o governador Cid Gomes triplicou os investimentos na formação superior mantida pelo Estado. Antes, o orçamento não era superior a R$ 5 milhões. No interior ainda haverá melhorias. Ele destaca o campi de Quixadá como exemplo. Em breve, receberá reforma total de suas dependências. Considera que o problema na Feclesc é pontual.
Despesas
Ainda de acordo com o pró-reitor, a Uece estuda a possibilidade de descentralização da administração dos recursos financeiros. Cada unidade do Interior poderá voltar a controlar suas próprias despesas. Todavia, o processo é demorado. Os gestores dos campi precisam ser capacitados bem como a equipe auxiliar. O objetivo é dinamizar o atendimento às necessidades de cada uma delas. Ele acrescentou, porém, ser uma proposta embrionária. Muita coisa ainda precisa ser discutida. "Apesar de ainda não ser o ideal, recursos financeiros não faltam", acrescentou ele.
Quanto ao protesto da Feclesc, Dodt considera uma manifestação justa. Ele esclareceu, porém, terem sido adotadas todas as providências para solucionar o problema. Geralmente, há demora na contratação do serviço. Com a construção das novas salas de aula, a fossa deverá ser interligada à rede pública de esgoto. Para evitar situações como ocorre em Quixadá, a Uece está firmando contratos com empresas. "Isso já ocorre com os condicionadores de ar e copiadores", destacou.
Enquete Indignação
"Isto é um absurdo. Como querem ensino de qualidade nos tratando dessa forma, sem condições de ficarmos em sala?" Deribaldo Santos, Professor de Pedagogia
"Nossos governantes devem pensar que a nossa educação é como o banheiro da casa deles. Isso é um desrespeito" Ana Gelsa Sabino, Acadêmica de Pedagogia
"O desprezo pela nossa educação pode ser constatado aqui. É ruim, até no cheiro. Por isso, usamos a máscara no rosto" Tereza Russo, Professora de Biologia
Alex PimentelColaborador
MAIS INFORMAÇÕES Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central Município de Quixadá
Telefone: (88) 3445.1039
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