FOTOS: ANTÔNIO CARLOS ALVES
Canindé. Criadores de gado dos Sertões de Canindé já amargam perdas significativas no rebanho com a morte de animais por falta de pasto e água. Eles mostram-se preocupados porque, dia após dia, os animais vão perdendo as fontes para beber e comer. Sob uma temperatura diária de 38º C à sombra, moradores que habitam a Zona Rural não escondem a tristeza com o quadro que se delineou na região.
Em meio ao pedregulho em verdadeiros desertos, os animais buscam o que comer, mas dificilmente encontram. Nos pequenos açudes, a pouca água esverdeada não serve mais para o consumo. Um cenário triste que já está se tornando comum no campo.
Infelizmente, a situação não será modificada em curto prazo por meio da tão sonhada chuva. Pelo menos nas próximas 48 horas, o Ceará não tem previsão de precipitações, segundo o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Paulo Barbieri. O Estado do Ceará vem sofrendo as muitas consequências da estiagem deste ano: mortandade de animais, perda da produção agrícola e diminuição dos níveis de açudes e mananciais, ficando impróprios para consumo humano.
Na localidade de Benfica, nas margens da rodovia municipal que dá acesso à sede do Município de Canindé, a uma distância de 18km, existe um cemitério de animais bovinos.
Nos 133 açudes monitorados pela Cogerh no Estado, a reserva hídrica chega a apenas 60,9% da capacidade total. Sem renovação da água pelas chuvas, as altas temperaturas aumentam o nível de evaporação.
Marcelo Nogueira dos Santos, residente no Benfica, em Canindé, lamenta ter perdido oito vacas. "Todas morreram de fome, porque a alimentação é fraca e não dá forças para os animais saírem em busca de pasto, até mesmo porque não existe mais", disse o agricultor. O gado praticamente está comendo pau e folha, não há pastagem, segundo atesta ele.
"Não temos condições de comprar ração de armazém para o gado. Um saco de resíduo custa R$ 40,00. O milho tem o mesmo valor e o farelo custa R$ 28,00. Estamos dando ainda um resto de capim e nada mais", frisa Marcelo Nogueira.
Francisco Custódio de Sousa, residente no Assentamento Frazão, a 30km de Canindé, é outro agricultor que enfrenta as dificuldades diárias, tentando manter o rebanho. "É um ano de muita miséria, nunca tinha visto isso. Estou sofrendo muito para tentar escapar cinco vaquinhas. Não tenho recursos para comprar ração balanceada, o jeito é apelar para Deus nos mandar chuvas o mais breve possível porque, caso contrário, só irá escapar de quatro pés, mesa e cadeira", prevê seu Chico Custódio, como é mais conhecido na região.
De acordo com o médico veterinário da Ematerce, Raimundo Nonato, o problema da mortandade de animais nos Sertões de Canindé é devido à falta de reservas alimentares estratégicas. "Daí o gado fica fraco e, quando começa a precisar de alimento, sofre porque o sistema imunológico está debilitado e a única tendência é morrer", diz.
Preço baixo
Quem não quer ver seus animais virarem comida de urubu, sacrificam-se e vendem por preços irrisórios. Antônio Honório da Silva, que reside na localidade de Barra Nova, na divisa de Canindé com Itatira, está vendendo o que ainda resta. Uma vaca que antes custava no comércio R$ 1.300,00, está sendo vendida por R$ 700,00 - quase a metade do preço.
"Aqui, moço, de verde mesmo, só a esperança, porque o resto já se transformou em deserto", lamenta seu Honório.
Assim como na zona rural de Canindé, outras localidades no sertão cearense amargam prejuízos na pecuária e na agricultura em decorrência da falta de chuvas há mais de seis meses.
Prejuízo
"Estou enfrentando dificuldades para criar cinco animais. Falta alimento e água para o rebanho"
Francisco CustódioPequeno produtor de Canindé
MAIS INFORMAÇÕES
Prefeitura de Canindé
(85) 3343.6937
Funceme - (85) 3101.1088
Cogerh - (85) 3218.7020
OPERAÇÃO PIPA
Ações visam minimizar os prejuízos
Fortaleza. Para amenizar a situação em Canindé, o prefeito Cláudio Pessoa autorizou a escavação de cacimbas nos leitos dos rios para fornecer água para o consumo dos animais. Já foram gastas 150 horas de trator e 35 cacimbas foram construídas, com profundidade de 4 metros cada uma. Segundo o responsável pelos serviços, Pedro de Alcântara Magalhães Júnior, o leito do Rio Curu, dentro do limite de Canindé, será aproveitado para servir de alternativa para garantir água para o gado.
Francisco Custódio de Sousa disse que a chegada das cacimbas poderão amenizar a situação do homem do campo. "Antes eram 18 quilômetros para levar o gado para beber e, quando retornava já voltava com sede, devido à distância. Agora, com a cacimba perto de casa, a distância não passa de 600 metros", comemora.
Outras medidas estão sendo adotadas também em outros Municípios. Segundo informações do assessor de imprensa do da 10ª Região Militar do Exército Brasileiro, coronel Filipe Ribeiro, somente a Operação Pipa atende, atualmente, 120 Municípios cearenses, totalizando 590 mil habitantes, desde o início do último mês. "Em outubro já começamos a trabalhar a última demanda de Municípios".
Para atender toda esta população, o Exército direcionou cerca de 35% de seu efetivo. Além do Ceará, são atendidos também os Estados do Piauí e Bahia. A Operação requer um processo intenso de planejamento e execução, apresentando algumas dificuldades: "acesso às localidades; contratação dos pipeiros; e a utilização dos mananciais, que devem apresentar boas condições para consumo humano", confirma o cel. Filipe Ribeiro, do Exército.
No Estado, segundo os últimos dados da Defesa Civil Estadual, dos 184 Municípios, 79 decretaram estado de emergência. Além da ajuda de carros-pipa, a Defesa Civil encaminha alimentação, se necessário.
Dentro do Programa Garantia Safra, o Estado atende 172 Municípios, beneficiando cerca de 290 mil famílias. Cada uma delas recebe R$ 600,00, dividido em quatro parcelas iguais. A última parcela será paga este mês em 165 destes Municípios. "As famílias beneficiadas nos outros sete Municípios - Sobral, Forquilha, Itatira, Moraújo, Orós, São Benedito e Varjota - já entram na folha de pagamento deste mês", disse o coordenador Arimatéia Gonçalves.
Chuvas em 2011
A expectativa é que o período chuvoso de 2011 venha resolver os problemas causados pela estiagem deste ano. "Nós temos o Oceano Pacífico na situação de La Niña, que é favorável para chuvas no nosso Estado. Com estas condições, a gente pode dizer que tem uma grande chance de ter um período chuvoso em torno da média", disse o meteorologista Paulo Barbieri. Até o dia 20 de janeiro, a Funceme deverá divulgar o prognóstico de chuvas em 2011 para o Ceará, após obter dados do Oceano Atlântico.
Capacidade
60,9 é o percentual de armazenamento atual dos 133 açudes monitorados pela Cogerh em todo o Estado. Por falta de água, pessoas e animais têm sofrido as consequências da estiagem.
EMANUELLE LOBO
ANTÔNIO CARLOS ALVESREPÓRTER/COLABORADOR
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
OPINIÃO DO BLOGUEIRO
Parece que nunca nossas autoridades passaram por isso. Como é triste vê as mesmas notícias a milhares de anos.
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