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domingo, 1 de julho de 2012

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRÔNICA DE BRUNO PAULINO



As pessoas que gostam de livros costumam comprá-los aos montes, quase no metro, no quilo. Onde vão colocá-los ou quando vão lê-los são questões nas quais não  pensam de imediato. O bom mesmo é ter o livro. Melhor ainda é poder cheirá-lo, sair com ele, passear, mostrá-lo aos amigos, amantes também de livros, esperando por aquele rápido momento em que a inveja surgirá em algum, quase imperceptível, gesto de mão, olhos, boca. 

Quem realmente gosta de livros, adora dá-los de presente, bem como recebê-los. Minha pessoa ainda não consegue vislumbrar, no entanto, a ação de dar um livro digital de presente a alguém. E, por enquanto, também não tenho interesse em receber. Sabendo disso, alguns amigos continuam me presenteando com livros físicos. Se conseguirei ler todos os livros que ganho e compro antes de morrer? Sinceramente não tenho tal preocupação. O que bem sei é que, de uma forma ou outra eles continuam chegando e, cada um ao seu jeito, vão se chegando aqui, se amontoando ali. E assim, vão ficando e fazendo parte da família.

Dias desses, uma amiga me trouxe o livro Lá nas Marinheiras e outras crônicas (2012), de Bruno Paulino. O livro contém vinte crônicas que tratam de tudo aquilo que uma crônica pode tratar. Se é que existe algo que não possa ser tratado em uma crônica. Os textos de Bruno Paulino são de agradável leitura, embora ainda careçam de uma maturidade que o próprio autor ainda não possui. Bruno Paulino ainda é muito jovem, mas já demonstra determinação, vontade e empenho tão necessários àqueles que desejam palmilhar os caminhos da escrita. Suas crônicas, no entanto, não pecam pela imaturidade do autor e, a continuar produzindo, a escrita de Bruno Paulino avançará a passos largos em direção à maturidade literária que, deixemos claro, não está associada à idade; mas ao tempo, à experimentação e à prática. Como aquele ourives do poema do Bilac, o escritor precisa escrever, escrever, escrever mais e escrever melhor. Ao escritor, menos inspiração, mais transpiração. Escrever, escrever e escrever. Melhor que publicar é escrever. Muitas vezes é preciso deixar que os textos dormitem em pastas, mesas e gavetas, para que possam apurar seu sabor, sua textura. Só assim, estarão prontos para serem sorvidos em toda sua essência.

A crônica de Bruno Paulino é eivada da mais bela cor local. No seu texto, transitam livremente suas memórias de seres, coisas e lugares. E pelas linhas e entrelinhas do jovem cronista passam seu avô poeta, dona Carminha, Manuel Bandeira, Ariano Suassuna, Quintino Cunha e, obviamente, Chico Buarque. Os textos do autor são ambientados em Quixeramobim, cidade natal de Antonio Conselheiro e Fausto Nilo. Sombreados aqui e ali, pelo menos na memória do cronista, por frondosos pés de juazeiros e cajás. E quando já é noite, o vento Aracati surge, amenizando a “quentura medonha”, que faz um bruto sucesso naquela partezinha da chamada área Q. E se perguntarmos do que o cronista tem fome, arriscaria dizer que sua fome é de exteriorizar o que sente, o que vê, o que o entedia. E assim, como todo bom escritor, Bruno Paulino sente a vontade de escrever cada vez mais e, escrevendo cada vez mais, se inserirá no rol daqueles que constroem o caminho no próprio ato de caminhar.

             Por Carlos Carvalho - UECE-FECLES, ganhador do prêmio de literatura UNIFOR (2009), autor do livro “Memória de Peixe”.



1 comentários:

Agora, mas do que nunca tenho vontade de ter esse livro. Gosto de suas crônicas e tenho certeza de que no seu livro vou me surpreender com cada crônica que eu ler. Cheiro de livro novo; adoro!!!