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domingo, 26 de agosto de 2012

O SERTÃO EM PROSA: Imagine (Um réquiem para John Lennon)



Imagine a vida sem desconforto. Sem política (nada de Lula, FHC e Tiririca). Sem policia, sem ladrão. A vida sem sol demais, sem calor, sem suor grudando na pele, sem pelos colados no corpo. Sem frio, sem blusas de lã que incomodam, sem o ar congelante que irrita o nariz. Sem secura demais, sem umidade sufocante, um ar condicionado perfeitamente regulado à volta de si o tempo todo.

Imagine a vida sem cansaço. Sem despertador, sem costas doloridas ao fim do dia, sem as pontadas no peito que você sentiu ao correr atrás do ônibus. Imagine a vida sem correr atrás do ônibus, e sem ser obrigado a ouvir a música que as pessoas gostam de ouvir no ônibus. Imagine além, é fácil se você quiser, é só imaginar a vida sem ter jamais que pegar ônibus, A vida sem ônibus. Sem ter que suar o suor alheio, a promiscuidade imunda dos ônibus. A vida sem o chefe careca e resmungão no trabalho, a vida sem chefe e sem trabalho.

Imagine a vida sem dor - sem tropeçar na calçada, sem bater o dedo num paralelepípedo, e perder a unha. A vida sem nunca esfolar os joelhos quando criança, sem cair de cara e perder dois dentinhos de leite. Imagine a vida sem jamais ter quebrado o braço, sem ter o gesso (quente, coçando) assinado pelos colegas de classe. A vida sem uma nota baixa, sem reprovação no vestibular, sem vestibular, a vida sem professor, sem esperar inutilmente pela resposta de uma entrevista de emprego. Viver sem ter que bater ponto, e, fazer prova.

Imagine a vida sem televisão (mas não ouse imaginar uma vida sem o desenho dos Simpsons)... A vida sem o Faustão, sem o Pedro Bial. Uma vida sem internet, sem Youtube, sem celular, sem tablet, sem redes sociais, sem amigos virtuais. Imagine um mundo não globalizado, sem pipoca de micro-ondas. Sem coca-cola. Sem videogame (Hey! não imagine isso). Imagine uma vida sem John Lennon, sem os Beatles (Não! espera aí um pouco, novamente não imagine isso!). Imagine uma vida sem as teorias do Marx, Freud, Darwin e do Augusto Cury (eu não sei quem é mais chato um marxista convicto ou um leitor do Augusto Cury).

Imagine a vida sem resfriados. A vida sem tosse. A vida da varíola erradicada, do sarampo quase extinto, uma vida sem viroses enigmáticas, sem conjuntivites purulentas. A vida sem diagnósticos de câncer (sem cigarro!), sem doenças sem cura, sem agonias prolongadas ou súbitas demais. Imagine a vida sem jamais perder quem se ama antes do tempo.

Imagine a vida sem decepção, sem frustração, sem desilusão, sem dor. Uma vida sem preguiça, sem os torcedores do Flamengo (Oh!como eles são chatos), uma vida sem fome, dor de barriga, ou sertanejo universitário, sem saudade dos anos 80, sem cerveja quente. Imagine a vida sem amor, nem ódio. Ah, pare de imaginar, o sonho acabou...

 Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE.
Cordenador do Projeto Papo Cultural promovido pela ONG IPHANAQ.
 
Escreve aos domingos como colaborador na categoria O SERTÃO EM PROSA


           

2 comentários:

É! seria um tédio viver sem algumas dessas chatices; mas poderíamos viver sem o plim-plim da poderosa e seus Faustões e Pedro Bial; também seria melhor sem a torcida urubu, mas nunca sem a torcida do Ceará - como eu ia viver sem o Fernando Ivo e o Nilo Luiz; agora dispenso os livros de auto ajuda que só ajudam a conta bancária dos seus autores e ditores; Pior ainda é procurar a CRÔNICA NO SERTÃO EM PROSA e o Fernando não ter postado. Agora imagine que danado de cronista esse Bruno Paulino tá se tornando.

rsrss Boa Brunim,Parabéns. Lembrei de uma das primeiras aulas de Inglês Instrumental... na sala a gente discutia essa música... nas opniões, enquanto todo mundo dizia que um mundo assim seria maravilhoso.. "a do contra" aqui, dizia que não queria viver assim de jeito nenhum. Sem desafios é viver sem vitórias.