Banabuiú.
Os moradores desta cidade, situada numa das maiores áreas hidrográficas do Ceará, a 225Km da Capital, estão se sentindo mais azarados do que os apostadores de Novo Hamburgo (RS). Além de não poderem mais arriscar no bolão da Mega-Sena, o fechamento da única agência lotérica local está causando uma crise econômica generalizada na cidade. Parte do comércio começa a fechar as portas e os trabalhadores rurais são obrigados a receber o dinheiro do Bolsa Família e outros benefícios do Governo Federal nas cidades vizinhas.
Os serviços do posto lotérico foram paralisados no início de fevereiro passado. O suficiente para o segmento empresarial começar a sentir os efeitos. Pelas contas dos comerciantes, a queda já atinge mais de 70%, podendo tornar-se grave caso a Caixa Econômica Federal (CEF) não reinicie os serviços o mais rápido possível.
Pelo menos R$ 260 mil deixam de circular no início dos meses na cidade em razão da interrupção. O levantamento foi feito pela presidente da Câmara de Vereadores de Banabuiú, Marinez de Oliveira Carneiro, conhecida por Deca.
Falência
O secretário de Finanças do Município, José Gutemberg Rodrigues, confirma a crise. Pode parecer pouco, mas para um Município com menos de 20 anos de emancipação e população inferior a 20 mil habitantes, é como decretar a falência dos pequenos empresários. "Os efeitos se tornam ainda mais elevados em razão dos agricultores gastarem o auxílio financeiro mensal em Quixadá. Aproveitam a viagem, fazem compras por lá e voltam para casa de sacola cheia e bolso vazio", ressalta o secretário de Finanças. Como não param mais no Centro de Banabuiú, o reflexo é sentido por todos os cantos da cidade.
Os mototaxistas permanecem o dia parados. Faltam passageiros. Nas lojas, vendedores de braços cruzados. No restaurante de Raimundo Nonato Nunes não é diferente. A freguesia não aparece mais. Quando a lotérica estava funcionando, o movimento era bom. Se continuar assim, ele será obrigado a demitir os cinco funcionários e baixar as portas.
O efeito negativo também atinge o açougue de João Alberto Oliveira. Como faltam clientes nas mesas do outro lado da rua, dos quatro bois abatidos por semana, agora, apenas um vai para cima do balcão. A venda do frango também caiu.
Nem ele e nem a agricultora Maria Aparecida Lemos entendem porque a Caixa Econômica resolveu fechar a Loteria Sitiá. Revoltada, a lavradora diz ser obrigada a se deslocar mais de 50km para receber um benefício de pouco mais de R$ 70,00. Ela gasta quase a metade somente com passagens e refeição. Preocupados, exigem o retorno dos serviços prestados pela Caixa o mais rápido possível.
É como um efeito dominó: se os moradores tiveram apenas noções de como foi a crise econômica mundial por meio de jornais, agora eles aprendem, na prática, os efeitos de uma crise iniciada com apenas o fechamento da lotérica, também considerada uma unidade bancária no Município.
Lojistas
Conforme a representante dos lojistas, Kátia Nobre, o posto avançado do Banco do Brasil não efetua o pagamento do Bolsa Família. Já teve gente interessada em assumir a concessão da lotérica, todavia, o proprietário, Juderlan de Brito, está pedindo um valor considerado muito alto. Não vende por menos de R$ 90 mil e, para piorar, não dá explicações sobre o assunto.
Kátia foi eleita recentemente presidente da CDL de Banabuiú e ainda não foi empossada. "O jeito é agilizar a reabertura dos serviços da lotérica, bloqueados por conta de irregularidades encontradas pela Caixa", completou Kátia.
A assessoria de comunicação da Caixa Econômica Federal, em Fortaleza, confirmou o fechamento da lotérica por descumprimento de cláusulas do contrato de concessão. No entanto, não foram repassados detalhes a respeito deste descumprimento. Mas salientou que a interrupção dos serviços é temporária.
Conforme a superintendência da Caixa, enquanto a Loteria Sitiá não reabre, uma equipe do banco é enviada à cidade nos dias de pagamento dos benefícios do Governo Federal. No entanto, a população local desconhece este atendimento excepcional da agência.
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