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sábado, 4 de setembro de 2010

PESQUISA COMPROVA DESPERDÍCIO DE ÁGUA


Estudioso aponta "vício hidrológico" como causa principal de falta de água na maior cidade do Sertão Central
Quixadá. "Os números não mentem jamais". A máxima gera controvérsias, mas uma estatística acompanhada de uma boa interpretação dos dados pode levar a importantes conclusões a respeito da realidade retratada em uma pesquisa. Este é o caso do estudo "Estimativa do Potencial para Captação de Água de Chuva em Quixadá", elaborado pelo geógrafo e professor Lucas da Silva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), campus de Quixadá.

Mestre em Manejo de Solo e Água pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Silva procurou estimar o potencial para captar água da chuva na "Terra dos Monólitos", a partir da análise da série histórica de chuvas anuais no Município, entre 1965 e 2008. Também participou da pesquisa o professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Hermes Alves de Almeida.

Os resultados desconstroem a tese de que em anos mais secos falta água para o consumo humano em Quixadá. Em cinco cenários analisados na pesquisa, o volume pluviométrico anual verificado é suficiente para que uma família com, pelo menos, quatro pessoas armazene água durante 12 meses. Admitindo-se o valor médio de chuva no Município (805 mm), o menor volume potencial de captação foi 24.150 litros (telhados com cobertura de 40 m) e o maior, 60.375 litros, para habitações com superfície de cobertura de 100 m.

Ocorrência de chuvas

Esses cinco cenários representam a ocorrência de chuvas igual à média histórica; o maior valor verificado nesses 43 anos; e os três valores que mais tendem a se repetir durante quatro anos (um ano acima da média, dois em torno da média e um ano pouco abaixo da média). Em apenas um dos cenários estudados, o total de chuvas verificado não supriu a necessidade anual de uma família. Foi o caso de 1998, quando a pluviometria no Município atingiu apenas 244,8 mm, o pior da série histórica. No entanto, conforme o estudo, a probabilidade de ocorrência de um ano como aquele é de apenas 2,2%.

Segundo o estudioso, os números mostram que o grande problema de Quixadá não está na falta de chuva, mas no armazenamento inadequado e no uso inapropriado da água. "Cheguei aqui em Quixadá durante uma ´seca horrível´ no fim de 2008. Mas logo no ano seguinte, houve muita chuva e a cidade sofreu na época. Isso é um paradoxo. Constatei que aqui existe um vício hidrológico, a esperança do povo é sempre que a chuva venha depois", constata o pesquisador.

Para Lucas da Silva, natural da Paraíba, onde o quadro meteorológico é semelhante, a primeira mudança de comportamento necessária em Quixadá é o gerenciamento do uso da água no período do inverno, de forma a armazenar o recurso hídrico para o restante do ano. "Não adianta pensar em grandes projetos de transposição e irrigação sem antes rever as tecnologias básicas de acumulação, como o uso das cisternas", defende.

O geógrafo sugere ao poder público, em parceria com os meios de comunicação, a divulgação para quais finalidades serve a água da chuva: consumo humano, cozinhar e beber. Além disso, ele indica a necessidade de uma melhor gestão do uso das cisternas bem como a ampliação dos programas de construção desse meio de armazenamento, na área urbana deste Município. A iniciativa pode se estender por toda a região.

O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que lançou no semiárido brasileiro a construção de cisternas de placas para captar água de chuvas, tornou-se política pública no primeiro governo do presidente Luís Inácio. No entanto, ainda hoje, a quantidade construída destes reservatórios ainda é bem menor do que a demanda. Além disso, as famílias não sabem usá-la corretamente.

SAIBA MAIS

ÁGUA
Para definir a quantidade de água necessária por família, a pesquisa considera dois valores, aceitos na literatura relacionada ao assunto: 14 litros por dia, para cozinhar e beber, e 20 litros/dia, inclusive para o banho

COEFICIENTE

No estudo, para se avaliar o potencial de água a ser captado em um telhado, 25% da água da chuva é desprezada. Esse percentual é o chamado "coeficiente de escoamento" e representa o volume perdido antes da armazenagem. Um milímetro de chuva equivale um litro de água por metro quadrado

DESVIO PADRÃO

No estudo, os pesquisadores chegaram à conclusão que o desvio padrão mensal da pluviometria chega a 77,6% da média de chuvas mensal e a 38% da média anual (o desvio é a dispersão em relação à média esperada). Esta situação é retrato da grande variabilidade da ocorrência de chuvas na região Nordeste

MAIS INFORMAÇÕES
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) - Quixadá, Estrada do Cedro, Km 05, (88) 3412.0111


Alex PimentelColaborador
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE

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