Apesar da invasão do forró eletrônico e outros modismos musicais, da internet e da tecnologia do LCD, fortes concorrentes no entretenimento do nosso dia a dia, os acordes da velha sanfona ainda tem público fiel por meio das ondas do rádio no interior do Ceará. Asa Branca, Assum Preto e outros hinos do cancioneiro popular, imortalizados pelo "Rei do Baião", continuam anunciando o amanhecer do dia pelo sertão adentro.
Ontem, no aniversário de Luiz Gonzaga, os acordes do fole soaram mais alto. O velho "Lua" foi lembrado e homenageado pela maior parte dos radialistas do Sertão Central. Mas festa especial mesmo quem fez foi o radialista Luciano Silva e sua equipe. Juntamente com o filho Jânio Silva, a neta Naiara de Freitas e o amigo Eranildo Ferreira arrastaram uma legião de trios para o estúdio da Monólitos AM, em Quixadá, onde apresentam aos domingos o programa "O Rei do Baião".
O estúdio ficou pequeno para tanto convidado. As ligações não paravam. Alguns ouvintes preferiram conferir de perto as atrações do dia. A aposentada Maria de Lima Silva foi um deles. Além do puxado da sanfona, uma gincana especial completava a agenda festiva. Segundo os organizadores, uma das frutas prediletas do aniversariante era a banana, surgiu então o desafio: um prêmio em dinheiro para o ouvinte que comesse a maior quantidade delas ao som do xote.
Segundo Luciano Silva a disputa chega ao seu terceiro ano consecutivo. O programa tem um pouco mais de tempo, nove anos. Quatro deles pela Rádio Cultura, da Diocese de Quixadá, e o restante na Monólitos. Todavia, a tarefa não é fácil. Apenas os comerciantes saudosistas e poucas instituições públicas se dispõem a patrocinar o programa. Por esse motivo ele teme que a boa música nordestina caia no esquecimento.
Resistência
Jânio Silva concorda com o pai, mas acredita na resistência do rádio. Além de Quixadá, o cancioneiro de Luiz Gonzaga ainda tem lugar garantido em outras emissoras do Interior e até da Capital. Ele cita como exemplo o Gonzação Especial, apresentado por Getúlio Câmara na Difusora Cristal, em Quixeramobim; o Sertão Alegre, de Tarcísio Barros, pela Pitaguary AM, em Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza, e o Gonzagão na Cidade, apresentado por Pedro Sampaio.
Para o radialista, as músicas de Luiz Gonzaga deveriam ser levadas para dentro das escolas. Mesmo nas vozes dos intérpretes preferidos, com novos arranjos, a essência da musicalidade do sanfoneiro pernambucano, a maioria delas em parceria com o cearense Humberto Teixeira, poderá permanecer perpetuada na memória nordestina. "O gosto dos mais jovens por suas raízes é a melhor forma de preservar esse tesouro cultural em forma de música", completa.
Nas escolas
A secretária de Educação de Quixadá, Lígia Saraiva, considera viável a implantação da proposta do radialista nas escolas de sua cidade. Dentro do currículo escolar os alunos da rede pública já tem até aulas de música. Resta apenas incluir e valorizar mais o repertório do músico compositor, para ela o maior ícone de música sertaneja. Além da sonoridade tipicamente rural, suas letras expressam a vida do povo.
Presidente do "Viva o Rei", Fernando Ivo de Sousa, também acredita no estímulo juvenil como a melhor forma de preservar a memória e as obras de Luiz Gonzaga. "Os mais jovens conhecem as músicas dele. A mais ouvida é ´São João na roça´, na época das festividades juninas. Precisam apenas conhecer melhor a sua história", enfatiza. Segundo ele o seu fá clube é o único no Ceará dedicado ao ´Rei do Baião". Foi fundado em 2004, em Quixeramobim.
Cultura
"Apesar das dificuldades, sentimos orgulho em poder preservar nossa cultura"
Luciano Silva
Radialista
"Somente um bom sertanejo é capaz de valorizar as músicas do nosso Lua"
Maria de Lima SilvaOuvinte
MAIS INFORMAÇÕES
Programa O Rei do Baião
Domingo, das 11 às 13 horas
Rádio Monólitos AM Quixadá
(88) 3414.7063
ALEX PIMENTEL
COLABORADOR
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE/ REGIONAL
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