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domingo, 1 de janeiro de 2012

VOCÊ TEM FOME DE QUE?

                                                              Imagem: Internet
Uma madrugada dessas, tava de pijama deitado no meu quarto “Dentro da Noite Veloz” lendo Ferreira Gullar, vendo minha televisão (consigo fazer as duas atividades perfeitamente ao mesmo tempo) e de repente ela chegou, não era a menina veneno que vinha me amar, era outra moça, era a fome. 

Eu tenho fome de muitas coisas (e você tem fome de que?), mas resolvi comer miojo, o fruto mais louvado da industrialização do sabor, a jóia mais preciosa da tecnologia da gostosura., com um preparo fácil e rápido, isso faz do macarrão instantâneo o alimento mais pratico ao homem pós-moderno (sempre quis me inserir nessa categoria de homem e o jeito que consegui foi comendo miojo) quem sabe fazer miojo tem o poder de se salvar da fome a qualquer hora do dia ou da noite , tornando-se um marco na vida dos jovens, pois é assim que reza a lenda, se o cara sabe fazer miojo ele está pronto pra sair de casa e assumir sua maioridade, o miojo é a revolução...

Deixando a revolução de lado (até porque sou um revolucionário preguiçoso), era hora do trabalho, peguei o miojo pus na panela, coloquei a água para ferver,  liguei o radio que tocava uma dessas músicas bem decadentes sobre amor,  fiquei num estado de solilóquio (se você não sabe o que significa essa palavra procure no dicionário) durante os três minutos necessários para a mágica transformação do alimento,  refleti sobre tanta coisa, sobre o excesso de nostalgia que envolve o mundo contemporâneo, e me dei conta, poxa vida, tanta coisa acontecendo e eu aqui em casa fazendo miojo, naquele exato momento alguém poderia está labutando em algum laboratório a cura para AIDS, outros certamente  estariam bebendo de bem com a vida, um outro estaria planejando uma campanha para acabar com a bendita “fome” na África (acredite tem pessoas nesse mundo que se preocupam com a fome do outros), e como nem só de coisas boas vive a humanidade, gente de terno, gravata e discurso bonito também se encontrariam em edifícios  luxuosos traçando seus  planos que culminariam na fome de muitos (não vou dizer quem é esse tipo de gente), felizmente passou um paredão de som na rua com o volume nas alturas e me livrou desses pensamentos.

O tempo passou, eu nem me dei conta, para variar ainda esqueci de colocar o tempero, acho que ando comendo tanto miojo que talvez venha a ter uma anemia por falta de substancias e vitaminas que não estejam presentes no macarrão instantâneo, fiquei procurando o tempero, bom finalmente acabaram os três minutos, achei o tempero e comi, não matei a fome, contudo aprendi uma lição, nem só de miojo viverá o homem.



Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE.


 
Cordenador do Projeto Papo Cultural promovido pela ONG IPHANAQ.
 
Escreve aos domingos como colaborador na categoria O SERTÃO

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