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sábado, 7 de abril de 2012

A SUBSTITUIÇÃO DO JUDAS



É claro e evidente que estamos vivendo um momento de exclusão dos movimentos em homenagem às tradições, uma das mais ricas divisões da cultura brasileira.


É uma verdadeira tristeza extinguir alguns movimentos que fazem parte da história, iniciados nos tempos que marcaram o início do cristianismo, escritos, narrados e postos em prática pelos nossos antepassados.

Na Semana Santa, por exemplo, já tivemos momentos emotivos, folclóricos e religiosos de muita evidência, mas aos poucos estão acabando, pela falta de incentivo e até por preguiça dos que vivem a atualidade, preferindo caminhos mais perigosos como a droga, a bebida alcoólica e a violência.

A tradição do Judas está praticamente extinta no Nordeste, atualmente apenas os meninos costumam brincar de “caboclos”, pois os adultos abandonaram esse momento divertido e parte viva da cultura nacional.

Era comum na Semana Santa, principalmente nos três dias chamados de Penitência, a andança dos “caboclos”, mascarados, com vestimentas muito folclóricas, carregando o Judas montado num jumento, pelas ruas e zona rural, sempre acompanhados por um grupo de animadores formado por um tocador de fole de oito baixos, zabumba, pandeiro e reco-reco.

Andavam o dia inteiro, pedindo presentes para o circo armado na Sexta-Feira Santa, principalmente com milho verde, cocos, melancias, jerimuns, melão, as frutas bem nordestinas, para a festa do encerramento da perseguição ao Judas, até a morte, meia-noite, quando os galos iniciavam a cantoria anunciando o fim da noite e a entrada do outro dia.

Os “caboclos” se esmeravam na vestimenta, cada qual mais fantasiado com trajes que representavam os velhos tempos da morte de Jesus.

Depois da morte do Judas, à bala, faca, ficando completamente estraçalhado pelo chão, todos voltavam ao seu normal e dançavam até o dia amanhecer, comemorando a morte do traidor de Cristo.

Era também um tríduo penitencial, pois os “caboclos” abandonavam as suas casas, para enfrentar dias de fome, numa correria dominada pelo cansaço, representando uma história acontecida há mais de dois mil anos, quando os romanos no governo da Judéia mataram Jesus Cristo, segundo os dados historiográficos da Bíblia Sagrada.

Hoje a moda é outra, promover festas nos dias mais sagrados da Semana Santa. O jejum também foi extinto e a penitência foi abolida por completo pelos próprios comandos religiosos.

Parece até que o povo não tem mais força para castigar os traidores, pois a política partidária cuidou muito bem de implantar esse novo governo, às vezes mais perverso do que Judas.

As traições, na atualidade, acontecem todo dia e toda hora. Os políticos são profissionais nesse ramo, e sem precisar do uso das máscaras, traem de cara limpa, e ainda dizem que faz parte do jogo político.

Ao que tudo indica, eles mesmo imaginam que não há mais necessidades de confeccionar Judas de molambo ou de capim, pois os humanos preenchem todos os requisitos e até com muito mais capacidade para o exercício da nova profissão, pois não precisam de um saco para carregar o dinheiro aos olhos do povo, como fez o Judas verdadeiro, ao trair o Criador do Mundo. Naquele tempo foram trinta dinheiros, hoje as somas são mais vultosas e existe todo um aparato bancário para o depósito rápido, sem testemunho de outras pessoas.

O Judas de molambo está acabando, de uma vez por todas, porque os Judas humanos se encontram em toda parte, com vocação de trair e roubar com mais facilidade.
 


 Por Francisco Alves Cardoso

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