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domingo, 27 de maio de 2012

O GATO NO TELHADO


Imagem: Internet
Para Edgar Allan Poe

Miava muito alto o gato, como mia alto todo e qualquer gato que estar morto de fome, e este, se encontrava no telhado sobre o quarto do menino, que já havia, há muito perdido o sono, e agora assistia sem entusiasmo novamente ao DVD do Rei Leão naquele fim de noite fria. O menino acabou adormecendo, embora tenha estranhado o fato de um gato ir parar justo em seu telhado, pois, na sua vizinhança quase não havia gatos, alias, em sua vizinhança não havia quase nenhum tipo de bicho sequer (o menino sempre se questionou porque nas cidades não havia bichos como nas selvas?), e não ousou imaginar que de uma hora para outra seus vizinhos resolveram adquirir um gato barulhento.

No outro dia pela manhã, quando se encontrava sentado na varanda de casa esperando a carona dos pais para ir à escola, o menino viu por entre arbustos e folhas, de repente o bichano que miava na noite passada adentrar em seu jardim, sem a menor cerimônia. E, alegrou-se, quando o gatinho se dirigiu ao seu encontro na varanda. O bichano era preto e branco, e o menino logo veio a se encantar por ele, tinha as cores do seu clube do coração, o Ceará Sporting Clube, e naquele momento soube que cuidaria dele, e que nunca mais aquele gato voltaria a dormir sobre seu telhado - a partir daquele instante dormiria dentro de casa, faria parte da família, se chamaria Vovô. E foi assim que o gato oferecido acabou adotado pela família do menino (a mãe do menino não impôs resistência, o filho estava tão entusiasmado, e vivia muito solitário em seu quarto vendo TV e brincando, e um companheiro o faria bem).

Tudo foi sossegado nos primeiros tempos, caseiro e receptivo aos carinhos humanos, o gato engordava a passos largos, alimentado a pires de leite e restos de bife, seus pêlos bem tratados, já estavam brilhantes. E assim, sem uma relação classista entre um dono e seu bicho de estimação, eles acabaram fortalecendo o vinculo - o menino e seu gato - se tornaram verdadeiros irmãos, que brincaram por muitas tardes alegres.

O tempo passou. Vovô cresceu, tronou-se traquino, saia nas noites a se aventurar nas caçadas e nos encontros amorosos. O menino também crescera e acabou por deixar um pouco de lado o bichano. Até que num triste dia (sempre existe um triste dia) quando voltava da escola, próximo a uma lata de lixo, o menino viu e reconheceu junto a chão, espatifado por entre dejetos e restos de comida, o corpo de seu gato Vovô, que fora seu amigo, e lhe livrara a solidão nas tardes longas da infância. Foi uma dor lancinante, quase não conseguiu chegar em casa, onde entrou num luto verdadeiro, dias a fio permanecendo trancafiado em seu quarto, a cena era aterradora e ficaria viva em sua memória por muito tempo – embora, não quisesse a principio acreditar que o que vira fosse verdade, tinha esperança que Vovô surgisse novamente miando em seu jardim.

Acabou sabendo, dias depois por sua mãe que Vovô fora realmente atropelado por um caminhão. Levou um bom tempo, mas o menino (não mais menino) superou o ocorrido e encontrou outros amigos, - humanos mesmo, não gatos ou outros bichos, como você pode chegar a supor - porém, sempre se lembra de seu gato quando é madrugada, e sobre seu telhado um felino qualquer da rua, vem ecoar o triste canto dos bichanos pobres e desamparados sob a luz da lua.



 Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE.
Cordenador do Projeto Papo Cultural promovido pela ONG IPHANAQ.
 
Escreve aos domingos como colaborador na categoria O SERTÃOEM PROSA



1 comentários:

este gato seria por acaso o didu ?
aquele gato q quase não deixa vc namorar.