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domingo, 6 de maio de 2012

XEQUE-MATE



“Em seu grave rincão, os jogadores
as peças vão movendo. O tabuleiro
retarda-os até a aurora em seu severo
âmbito, em que se odeiam duas cores.”
(Jorge Luis Borges)


Hoje finalmente consegui. A gente vive uma vida tão corrida que é difícil o tempo para nós mesmos. Outro dia o Paulo Coelho escreveu uma crônica sobre o assunto – sim, eu leio o Paulo Coelho. Então, decidi dar um tempo para mim mesmo, e realizar uma atividade prazerosa que a muito não me dedicava, fui jogar xadrez (vocês sabem jogar xadrez, né?).

O mais importante, para mim, não foi ganhar nem participar de um encontro de enxadristas (por todo esse papo ensaiado de perdedor, vocês já devem estar suspeitando que não ganhei nenhuma partida), simplesmente pelo fato de  ter jogado, o importante foi verdadeiramente chegar à conclusão que não sou atleta e nem quero ser, e que o xadrez, na minha existência, pode acabar se tornando um belo passatempo, transformando assim minha antiga diversão em um quase vício. É a mesma idéia do Mario Quintana ao escrever "a matemática é o pensamento sem dor", que eu adapto para o xadrez, sim O xadrez é o pensamento sem dor, e só isso, já é suficiente para mim.

Falo sério, diante de um adversário com um olhar atento ao tabuleiro, não vejo sentido em perder, não vejo sentido em ganhar (novamente o papo ensaiado de perdedor). Tanto faz. Talvez - ainda é um pensamento incerto que compartilho com vocês - o que importa para mim numa partida de xadrez é ser capaz de ponderar a emoção com a razão, criando lances seguros sob pressão de tempo. É um maravilhoso desafio. Se conseguir equilibrar bem a emoção e a razão, mesmo com o seu rei sufocado no final da partida, com um relógio correndo. Parabéns, você venceu.

Fazendo uma leitura da vida fora (e dentro) dos tabuleiros acho que as coisas funcionam numa harmonia (ou desarmonia? afinal, nunca se sabe...) semelhante. Cada instante, cada jogada, todo movimento de peça, seja ela peão ou rainha, são como as águas que descem de um rio: jamais iguais. E por mais cuidadosos e atentos que sejamos sempre estamos correndo o risco de levar Xeque-Mate de nosso adversário (quem seria nosso adversário na vida?), afinal, não é esse o objetivo do jogo? Pelo menos foi meu objetivo nessa crônica: Xeque-Mate, leitor.

 Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE.
Cordenador do Projeto Papo Cultural promovido pela ONG IPHANAQ.
 
Escreve aos domingos como colaborador na categoria O SERTÃOEM PROSA

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