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terça-feira, 21 de agosto de 2012

QUIXADÁ: PÚBLICO BUSCA A POPULARIZAÇÃO DA SÉTIMA ARTE




 












Sessão de cinema na Praça da Cultura, com a exibição do filme "Área Q", gravado em Quixadá Foto: Alex Pimentel

Considerada a "Hollywood sertaneja", Quixadá não possui uma única sala de exibições em atividade comercial. Cenário de dezenas de produções cinematográficas, a capital turística do Sertão Central do Ceará conta apenas com sessões regulares no Cineclube da Fundação Cultural Rachel de Queiroz, nos fins de semana.
O espaço adaptado para as projeções recebe sempre um bom público, já que as exibições são gratuitas. Tem até sessão gospel. Mérito dos amantes da sétima arte nesta região e do esforço da administração pública local em preservar o hábito secular. Mas, na opinião dos cinéfilos, havendo interesse na cidade, os investimentos terão sustentabilidade e lucro.

Potencialidades

Duvidar das potencialidades cinematográficas de Quixadá é fechar os olhos diante das enormes telas a exibirem as imagens desta exótica terra mundo afora. Do drama até a comédia, as cenas refutam qualquer questionamento, principalmente, quando a Galinha Choca, o Chalé das Pedras e outras paisagens bem peculiares da "Terra dos Monólitos" estão enquadradas nas lentes dos cineastas, contracenando com os atores.

O "Área Q" foi o último deles. Estreou em circuito nacional. O público de Quixadá só teve a oportunidade de assistir à película graças a uma sessão especial, ao ar livre, na Praça da Cultura.

Segundo o pesquisador, historiador e escritor João Eudes Costa, um dos poucos a lembrar de detalhes da época áurea do cinema na cidade, nem sempre foi assim. Algumas décadas atrás Quixadá foi a majestade da região. Teve três cinemas funcionando ao mesmo tempo. Eram os Cine São José, 13 de Maio e Cine Yara. Uma época onde as exibições cinematográficas eram a principal diversão. Havia até concorrência entre eles na disputa pelas fitas de lançamento. O público adorava, principalmente as crianças. A diversão chegava, inclusive, aos menos favorecidos economicamente. Quem não tinha muito dinheiro, a opção era o "Cine Poeirinha".

Hoje coordenadora do Museu de Quixadá, a professora Maria Prima de Souza lembra da última máquina utilizada no Cine Yara. É uma das principais atrações do relicário municipal.

Ponto de encontro

O Cine Yara era o mais luxuoso da cidade e o único a não precisar acender as luzes quando havia necessidade de trocar os rolos. Como tinha dois projetores, em questão de minutos, a exibição continuava. As poltronas eram de madeira e o ambiente refrescado por enormes ventiladores. Era o principal ponto de encontro da cidade, prova disso é que as sessões ficavam lotadas de estudantes.

Todos se arrumavam para ir ao cinema. Quando os filmes terminavam, se reuniam na praça para paquerar. O fascínio e a familiaridade de Quixadá com esse tipo de diversão era tão grande que foi um cego quem fez o primeiro projetor "falar".

Expectativa

Era Adolfo Lopes da Costa, o "Mestre Adolfo", como explica João Eudes Costa. Segundo ele, o padre Luiz Braga Rocha, um dos pioneiros do cinema no Interior do Ceará, havia adquirido um novo projetor para o Cine Paroquial. Era a principal novidade na época em matéria de tecnologia no mundo.

A expectativa era grande, pois, pela primeira vez, o público teria a oportunidade de ouvir a trilha sonora dos filmes. Mas a frustração foi grande, tendo em vista que os filmes continuavam mudos. Como a máquina era de fabricação alemã e o técnico estava demorando, o padre recorreu às habilidades de Mestre Adolfo. Porém, o problema foi solucionado pouco tempo depois e os filmes começaram a "falar".

Esse episódio ocorreu por volta de 1898. Ao tocar a fita, "Mestre Adolfo" percebeu que apenas um lado dela ficava aquecido quando era tocada pelo carvão, uma espécie de lâmpada que iluminava e projetava as imagens.

Com o tato, sentiu algumas listas, barras contínuas, na outra extremidade da fita. Depois de alguns ajustes, a película passou a receber, de ambos os lados, o calor do carvão. Quando a colocou para funcionar novamente, a máquina começou a "falar". Essa foi a explicação do padre para a proeza do habilidoso artesão ao engenheiro alemão que chegou à cidade somente alguns meses depois. Após conversar com o artífice, o estrangeiro ficou impressionado, classificou "Mestre Adolfo" como um gênio.

Habilidades

E não foi somente "Mestre Adolfo" o único cego a impressionar os cinéfilos com suas habilidades manuais. Outro deficiente visual, mais famoso, Aderaldo Ferreira de Araújo, mais conhecido como "Cego Aderaldo", também fazia proezas no mundo do cinema. Pela sua influência nas cantorias, conseguiu de Ademar de Barros, ex-governador de São Paulo, um projetor cinematográfico. Como a máquina não tinha som, ele mesmo narrava as cenas do filme que exibia nas andanças pelas comunidades, a "Paixão de Cristo". Quem assistia ficava impressionado.

No início o "Cego Aderaldo" tinha um de seus muitos filhos como guia. À medida que as cenas eram projetadas, perguntava ao menino o que estava passando. Ao mesmo tempo, memorizava quantas voltas estava dando na manivela do rolo de filmagem. Decorou e, depois disso, não precisou mais do auxílio.

Hoje, não existem mais gênios como "Mestre Adolfo" e "Cego Aderaldo". Com eles também se foram os cinemas da cidade. Só é possível apreciar os encantos da sétima arte diante de enormes telas quando surge algum evento especial, como o Quixadá Mostra Cinema e o Cine Sesc.

Na opinião de quem adora cinema e se dedica a esse tipo de arte, o Município tem potencialidade para ter pelo menos duas salas de exibição. Além de ser um reconhecido polo cinematográfico, também é o maior centro universitário da região. São mais de cinco mil estudantes. Eles reclamam da carência de opções de lazer saudável na cidade. O cinema é uma delas.

Mais informações:

Prefeitura Municipal de Quixadá Fundação Cultural Rachel de Queiroz - Praça da Cultura,

Centro de Quixadá /CE

Telefone: (88) 3412.6208

COLABORADOR
ALEX PIMENTEL 

COM INFORMAÇÕES DO JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE

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