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domingo, 21 de outubro de 2012

O SERTÃO EM PROSA: "Habitar o tempo"

Imagem: Internet

Seria plausível escrever versos sinceros, mas eu não sei escrever versos, ou então quem sabe recitar uma canção que venha acordar os homens; mas nada disso conseguiria expressar realmente. Já tentei, já tentou um monte de gente por aí. Simplesmente existem certas coisas impossíveis de se descrever, ou explicar. Como os sentimentos (apesar de eu estar conseguindo burlar essa regra, mas este já é outro foco), as sensações; e o tempo. Ah, como habitar o tempo?

O tempo, meus queridos, não é nada mais do que um poema. Uma poesia, um devaneio impertinente (é uma pena eu não saber fazer versos). Não há palavra que consiga identificá-lo, ou termo que consiga sugeri-lo. És um senhor tão bonito. É uma pedra no sapato, no meio do caminho; é inspiração para Drummond e oração para Caetano Veloso. É motivo de conflito, de saudade. De nostalgia, de realidade. 

O tempo não para. O tempo é rarefeito, some nos melhores momentos e aparece com força nos piores. É seletivo, cíclico, é duro, é ruim. Mas é confortante, e traz consigo uma maré de coisas benevolentes para o ser humano, sem ignorar, contudo o fato de que não passamos de poeira cósmica insignificante (escrevo “cousas” pra lembrar Machado de Assis, que bem tinha razão ao afirmar que matamos o tempo, e, no entanto ele nos enterra. Esse também já é outro foco). 

Ultimamente ando muito preocupado com o tempo e seus efeitos em mim. Sinto a falta dele, sinto falta também de tardes vazias onde eu não fazia nada – mas parecia que eu fazia muito. Sinto falta de pequenas alegrias que surgiam em um dia de chuva, ou de sorrisos quebrados perdidos no espaço num dia de sol na praia ( não me lembro de ser um cara que goste de praia). Não tenho tempo mais para isso. Não tenho tempo para mais nada. As minhas felicidades efêmeras andam mais raras que o próprio tempo em si.

O problema é que, não obstante essas palavras não fazerem sentido algum, não consigo encontrar saída fácil. Todos os caminhos possuem obstáculos, obviamente, mas dessa vez grande parte é necessário. Bem, necessário? Ou será simplesmente... Passageiro? Só o tempo dará as respostas... Se é que ele as tem.



Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE.


Cordenador do Projeto Papo Cultural promovido pela ONG IPHANAQ.

 
Escreve aos domingos como colaborador na categoria O SERTÃO 

2 comentários:

Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo... ♫
Todos nós hoje em dia estamos vendo esse sumiço do tempo.. rs um tempo que voa.. É tão comum ouvirmos a seguinte frase: "Não tenho tempo pra mais nada". E apenas o que está faltando é fazermos um acordo com o tempo, como sugere Caetano Veloso. É dialogar com ele, e o mais importante: darmos tempo para o próprio tempo.. Porque se pararmos para pensar, será que o tempo não está se sentindo sufocado com toda essa correria e sendo assim resolve sumir de vez em quando, justo quando mais precisamos dele? rsrs Pois é Bruno, a sua crônica está tratando de um assunto bem interessante e contemporâneo.. Gostei muito!!! Vou te deixar com essa frase muito conhecida de William Shakespeare e que sempre a coloco em prática no meu cotidiano: Quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer. Mesmo quando não quero fazer nada... Só ver o tempo passar!

Grande Bruno, como você joga bem com as palavras, qualquer que seja o tema ganha vida em sua redação. Esse "menino" vai longe. Não perco uma crônica sua, não me identifico porque sou uma formiguinha no seu zoológico.