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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

COVARDIA: CISTERNA É CONTAMINADA COM ÓLEO EM QUIXADÁ


















Os 16 mil litros de água da cisterna do agricultor José Airton não servem mais para beber nem cozinhar. Os culpados ainda não foram encontrados FOTO: ALEX PIMENTEL


Um fato polêmico está causando indignação dos moradores do Sítio Bom Jardim, uma comunidade rural situada no distrito de Dom Maurício, em Quixadá. Na semana passada, a água da cisterna de placa do agricultor José Airton da Silva foi contaminada com óleo queimado. Cerca de 16 mil litros do líquido potável, captados nas chuvas no início do ano, na fraca quadra invernosa, foram perdidos. Ele ainda tentou retirar o poluente viscoso da água, mas não teve jeito. Embora a mancha tenha desaparecido, está ruim. Não serve mais para beber.

Revoltado com a sabotagem, o agricultor compareceu à Delegacia Regional de Polícia Civil, neste município, onde registrou ocorrência policial. Ele não apontou responsáveis, entretanto, atribuiu o ato a uma possível desavença com vizinhos.

Preocupado com a possibilidade da seca se agravar na região, resolveu poupar. Está apanhando a água para o consumo da família em cacimbões, a cerca de três quilômetros da sua casa. Orientou os outros moradores a fazerem o mesmo. Acabou sendo criticado por um casal, por sonegar água. Dias depois, teve a desagradável surpresa.

Sacrifício
"Eu havia tirado apenas um palmo de água. Quando começaram a falar na pior seca dos últimos 30 anos, resolvi fechar a tampa da cisterna. Dói nas costas, apanhar dois galões de 20 litros de água cada, de duas a três viagens por dia, mas o sacrifício estava valendo a pena. A água da chuva é bem melhor do que a das cacimbas daqui. Mesmo assim eu e minha esposa resolvemos economizar temendo o pior. Acabou acontecendo de outra forma. Eu não imaginava que a maldade humana chegasse a tanto. Todo sertanejo sabe que, quando a seca aperta, a água acaba se transformando no bem mais precioso", desabafou.

Na comunidade de Sítio Bom Jardim moram 16 famílias. Apenas duas delas não possuem reservatórios construídos pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). Segundo José Airton, preferiram não participar dos mutirões. Abriram mão do benefício. Todavia, o local onde moram é de difícil acesso. Para chegar até lá existe uma passagem muito íngreme.

Sem acesso
Os carros-pipas não conseguem subir carregados. Um deles tentou, mas acabou descendo ribanceira abaixo. "Por conta da dificuldade, quem se arrisca cobra cerca de R$ 500,00 pela carga de seis mil litros", acrescentou ele.

Consciente, o trabalhador rural não utiliza a água nas tarefas domésticas, para lavar as louças e nem as roupas. Com o tempo, ele e família apreenderam a conviver com a seca. Demorou, mas se conscientizaram sobre a importância da utilização correta da água. Entenderam melhor quando ganharam a cisterna de presente, nos cursos promovidos pelas ONGs.

O casal de vizinhos não fazia o mesmo. Apesar das orientações, estava até deixando roupa enxaguada em cima da cisterna. Então, resolveu fechar a tampa, no cadeado, para evitar o desperdício. Não imaginava algo pior. Para não desperdiçar, vai usar na irrigação da sua horta.

Crime
O delegado regional da Polícia Civil, George Monteiro, está apurando o caso. Na avaliação dele, o ato configura crime de dano em propriedade particular. Praticado de forma dolosa, quando há intenção, a pena pode chegar a três anos. Também pode configurar crime ambiental, onde a pena pode chegar a quatro anos de reclusão. Ele e sua equipe estão à procura do casal suspeito da prática da contaminação. Eles foram embora da comunidade antes do dano ser constatado. Monteiro também aguarda o resultado da perícia técnica.

O coordenador do Instituto Antônio Conselheiro, um dos parceiros do P1MC no Sertão Central, Flávio Henrique Gonçalves, considera absurdo e mesquinho o comportamento de quem contaminou de forma criminosa a água da cisterna do agricultor.

Com mais de seis mil cisternas construídas no Centro do Estado, o Instituto orienta os beneficiados quanto a importância do valioso recurso hídrico. Além da assistência técnica e econômica, quem é beneficiado participa de curso especial sobre o uso da água. De acordo com ele, "desperdiçar é um problema grave, quanto mais contaminar um bem precioso".

ALEX PIMENTELCOLABORADOR

MATÉRIA PUBLICADA NO JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE


1 comentários:

Por que o coração do homem está tão endurecido de pensamentos tortuosos contra seus irmãos? por que a maldade está tão ativa em nosso meio? As pessoas estão perdendo o sentido da bondade, da fraternidade e da verdadeira amizade!