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domingo, 25 de novembro de 2012

O SERTÃO EM PROSA

IMAGEM: INTERNET

Eu odeio segunda-feira.

“... E segunda-feira ninguém sabe o que será.” (Drummond)



São 7:35 da manhã meu despertador mental desperta. Hora de levantar. Penso em virar para o outro lado e ficar mais cinco, dez, quinze minutinhos alimentando meu sono, mas os compromissos das próximas oito horas martelam minha cabeça a favor da rapidez que gira meu relógio.

Levanto meio zonzo (e não estou de ressaca), calço minhas havaianas brancas; ligo a luz, sintonizo na AM, me olho no espelho – estou descabelado, de olhos avermelhadamente inchados (e arremelados), vestido num pijama branco do Pato Donald (Sim, eu sou fã da Disney) que me cabe com todas as minhas segundas-feiras dentro. Estico o corpo bocejando avidamente.

Entro no banheiro e fico naquela embromação de criança para mergulhar no chuveiro. Uma mão, depois a outra, um ombro, um pé e quando me dou conta já estou debaixo e a chuva artificial já molha minha cabeleira afro-brasileira, e água escorre no meu corpo. Dou “bom dia” para a escova de dente entupida daquele creme branco, para o antisséptico bucal, para o desodorante. Enxugo-me, visto as calças, calço o tênis com uma dificuldade tremenda, e penso no quanto estou engordando,acabo ficando nessa luta hercúlea de calçar o tênis por um bom tempo, mas por fim venço a preguiça gigante.

Raramente tomo café. Na cozinha, os lugares desarrumados confirmam quem já foi enfrentar o sol. “Quer pão? Tem iorgute na geladeira. Não tome esses todinhos de manhã! Se quiser faço um copo de leite com Nescau faz menos mal.” Grita minha mãe como uma metralhadora da área de serviço. “É a mesma coisa. E, eu não quero nada” pronuncio as primeiras palavras do dia (não sou lá de falar muito pela manhã). Saiu, e ela fica reclamando que minha blusa está amassada. Pego minha mochila, coloco uns livros dentro, e corro para pegar o ônibus.

A manhã está linda, choveu ontem e tudo amanheceu mais leve. Ponho o fone no ouvido e Belchior canta como se recitasse um poema “Tudo outra vez” naquela voz rouca e gostosa enquanto eu penso em “viver as coisas novas que também são boas...”, mas de repente, não mais que de repente acaba a carga do MP3, então eu tiro os fones dos ouvidos, e no som do ônibus está tocando uma versão da música “Way back into Love” de Hugh Grant, feita por uma dupla sertaneja, e ai a menina que está sentada ao meu lado comenta com uma colega no banco da frente “Ain, que música legal!” ao passo que a outra retruca “você precisa ouvir a versão em forró, massssssssssaaaaa.” E, ainda me perguntam por que eu odeio segunda-feira?




Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE.


Cordenador do Projeto Papo Cultural promovido pela ONG IPHANAQ.

 
Escreve aos domingos como colaborador na categoria O SERTÃO

 

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