FOTO/ REVISTA CENTRAL
Quixadá. Centenas de agricultores marcharam pelas ruas de Quixadá na manhã de ontem. Em seguida, invadiram o prédio administrativo da Prefeitura deste Município. Eles protestam por políticas de amparo à categoria. Tiveram perdas superiores a 80% nas lavouras e mais de 2,8 mil deles estão fora do programa emergencial do Governo, o Garantia Safra. A mobilização marcou o 47º aniversário do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Quixadá (STTRQ).
A categoria começou a se articular no início de abril, quando as chuvas já configuravam o quadro de seca verde. Pediam a inclusão de mais famílias no Garantia Safra e abertura de linha de crédito especial, por meio do Pronaf, para compra de equipamentos de irrigação. Os açudes ainda estão com boa capacidade. Deles é possível captar água para pequenos projetos, o suficiente para produzir a pastagem para os animais. Frentes de trabalho nas próprias comunidades, na edificação de cisternas, casas e de cercas também foram propostas.
Ato público
Mais de 120 dias depois, sem resposta dos governos Federal, Estadual e Municipal, os agricultores resolveram apelar com a realização do ato público, explicou a presidenta em exercício do STTRQ, Francinete Tomé Queiroz. A cada dia, mais e mais trabalhadores procuram a sede do Sindicato em busca de auxílio. Segundo a líder classista, o movimento pode ressuscitar o fantasma dos saques. Ela é contra, mas muitos estão revoltados. A fome começa a apertar ainda mais centenas de famílias. Não tem a quem recorrer. No desespero, poderão invadir o comércio local à procura de alimento, como ocorreu na década de 1980.
Aflição
José Ednilson Pereira de Sousa não esconde a aflição. Não pode colher nada nos dois hectares plantados no Assentamento Fazenda Douro, onde reside, no Distrito de Tapuirá. Se estava na porta da Prefeitura era porque não sabia mais a quem recorrer. São nove filhos em casa. Estão passando somente com feijão, farinha e água. Quando a comida acabar, o jeito vai ser procurar em qualquer lugar. "Matar a fome dos filhos, não importando de qual maneira seja, não é crime", desabafava ao ver uma agricultora sendo carregada para o hospital após passar mal, durante a ocupação do prédio administrativo da Prefeitura de Quixadá.
De acordo com o coordenador regional da Fetraece, José Fernandes Mendes, o quadro é praticamente o mesmo nos 13 municípios da região acompanhados por sua equipe. Faltam água e alimento para o consumo humano e animal. As colheitas foram perdidas e os agricultores estão se endividando cada vez mais. A renda das famílias foi afetada pela estiagem.
Ele não descarta a possibilidade de ocorrerem mais ocupações de prefeituras. Quanto aos saques, é contra, mas caso não sejam adotadas medidas emergenciais, até outubro, a situação vai se agravar.
Apesar dos açudes manterem carga superior a 50% até o fim do ano, conforme divulgado ontem pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), sem o atendimento das reivindicações apresentadas por meio de carta aberta, dirigida à sociedade e ao poder público, será difícil controlar milhares de sertanejos famintos. Por enquanto, apenas reivindicam no prédio público, mas poderão bloquear o acesso de servidores, impedindo o funcionamento dos setores de arrecadação e até de pagamentos da Prefeitura de Quixadá.
Movimento justo
O prefeito do Município de Quixadá, Rômulo Carneiro, considera o movimento justo. Ele se prontificou a receber amanhã uma comissão de trabalhadores rurais. Um compromisso em Fortaleza, com o secretário das Cidades, Joaquim Cartaxo, impediu o contato com a categoria no momento da ocupação. Ele justificou estar a disposição para reivindicar melhores condições para os agricultores.
Carneiro ressaltou, porém, encontro com a Secretaria Estadual do Desenvolvimento Agrário (SDA), em maio passado, no qual ficou acertado o repasse de mais duas parcelas do Garantia Safra e, ainda, distribuição de cestas de alimento para quem não foi incluído no programa emergencial.
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
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