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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

AGRICULTORES INVADEM A PREFEITURA DE QUIXADÁ

                                                          FOTO/ REVISTA CENTRAL
Agricultores ocuparam prédio da Prefeitura de Quixadá. Eles protestaram e até choraram pela falta de políticas emergenciais de amparo à categoria. Temem a seca e a fome. Efeitos da seca estão deixando trabalhadores rurais do Sertão Central desesperados com falta de alimentos

Quixadá. Centenas de agricultores marcharam pelas ruas de Quixadá na manhã de ontem. Em seguida, invadiram o prédio administrativo da Prefeitura deste Município. Eles protestam por políticas de amparo à categoria. Tiveram perdas superiores a 80% nas lavouras e mais de 2,8 mil deles estão fora do programa emergencial do Governo, o Garantia Safra. A mobilização marcou o 47º aniversário do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Quixadá (STTRQ).

A categoria começou a se articular no início de abril, quando as chuvas já configuravam o quadro de seca verde. Pediam a inclusão de mais famílias no Garantia Safra e abertura de linha de crédito especial, por meio do Pronaf, para compra de equipamentos de irrigação. Os açudes ainda estão com boa capacidade. Deles é possível captar água para pequenos projetos, o suficiente para produzir a pastagem para os animais. Frentes de trabalho nas próprias comunidades, na edificação de cisternas, casas e de cercas também foram propostas.

Ato público

Mais de 120 dias depois, sem resposta dos governos Federal, Estadual e Municipal, os agricultores resolveram apelar com a realização do ato público, explicou a presidenta em exercício do STTRQ, Francinete Tomé Queiroz. A cada dia, mais e mais trabalhadores procuram a sede do Sindicato em busca de auxílio. Segundo a líder classista, o movimento pode ressuscitar o fantasma dos saques. Ela é contra, mas muitos estão revoltados. A fome começa a apertar ainda mais centenas de famílias. Não tem a quem recorrer. No desespero, poderão invadir o comércio local à procura de alimento, como ocorreu na década de 1980.

Aflição

José Ednilson Pereira de Sousa não esconde a aflição. Não pode colher nada nos dois hectares plantados no Assentamento Fazenda Douro, onde reside, no Distrito de Tapuirá. Se estava na porta da Prefeitura era porque não sabia mais a quem recorrer. São nove filhos em casa. Estão passando somente com feijão, farinha e água. Quando a comida acabar, o jeito vai ser procurar em qualquer lugar. "Matar a fome dos filhos, não importando de qual maneira seja, não é crime", desabafava ao ver uma agricultora sendo carregada para o hospital após passar mal, durante a ocupação do prédio administrativo da Prefeitura de Quixadá.

De acordo com o coordenador regional da Fetraece, José Fernandes Mendes, o quadro é praticamente o mesmo nos 13 municípios da região acompanhados por sua equipe. Faltam água e alimento para o consumo humano e animal. As colheitas foram perdidas e os agricultores estão se endividando cada vez mais. A renda das famílias foi afetada pela estiagem.

Ele não descarta a possibilidade de ocorrerem mais ocupações de prefeituras. Quanto aos saques, é contra, mas caso não sejam adotadas medidas emergenciais, até outubro, a situação vai se agravar.

Apesar dos açudes manterem carga superior a 50% até o fim do ano, conforme divulgado ontem pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), sem o atendimento das reivindicações apresentadas por meio de carta aberta, dirigida à sociedade e ao poder público, será difícil controlar milhares de sertanejos famintos. Por enquanto, apenas reivindicam no prédio público, mas poderão bloquear o acesso de servidores, impedindo o funcionamento dos setores de arrecadação e até de pagamentos da Prefeitura de Quixadá.

Movimento justo

O prefeito do Município de Quixadá, Rômulo Carneiro, considera o movimento justo. Ele se prontificou a receber amanhã uma comissão de trabalhadores rurais. Um compromisso em Fortaleza, com o secretário das Cidades, Joaquim Cartaxo, impediu o contato com a categoria no momento da ocupação. Ele justificou estar a disposição para reivindicar melhores condições para os agricultores.

Carneiro ressaltou, porém, encontro com a Secretaria Estadual do Desenvolvimento Agrário (SDA), em maio passado, no qual ficou acertado o repasse de mais duas parcelas do Garantia Safra e, ainda, distribuição de cestas de alimento para quem não foi incluído no programa emergencial.


Alex PimentelColaborador

FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE

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