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segunda-feira, 21 de março de 2011

ANTÔNIO CONSELHEIRO: FAMILIARES E ESTUDIOSOS LAMENTAM O POUCO RECONHECIMENTO EM SUA TERRA NATAL

                                                Casa onde nasceu Antônio Conselheiro

No último dia 13 de março, o filho mais ilustre do município de Quixeramobim, Antônio  Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, completou 181 anos da sua data natalícia.

Em sua terra Natal, na cidade de Quixeramobim, no Sertão Central cearense, pouco se viu para lembrar a data. O movimento Conselheiro Vivo foi responsável pela movimentação em torno do único evento para lembrar Conselheiro. Nos dias 11,12 e 13 de março teve apresentação de teatro, exposição e oficina de xilogravura com João Pedro. Segundo Neto Camorim, coordenador do pólo Patrimônio Vivo, a falta de recurso deixa a desejar os movimentos, “o que nós realizamos é sem nenhum recurso público, fazemos este tipo de evento porque sentimos na obrigação de reconhecer o que foi conselheiro. Essa data era pra ser feriado municipal e destacar nos colégios a figura de Antônio Vicente Mendes Maciel, ou seja, a semana que antecede o dia 13 de março tinha que ser movimentada nos colégios do município com concurso de redação e outras atividades que incentivassem os alunos a buscar conhecer a vida de Conselheiro, alem disso buscar trazer  a sociedade para dentro da casa onde o mesmo nasceu. O nosso poder público municipal fecha os olhos para algo tão importante como é a data natalícia do homem que lutou pelo seu povo e deu exemplo ao mundo de superação”. Neto Camorim ainda comentou que as nossas bibliotecas possuem um acervo muito pequeno sobre este conterrâneo e que o mesmo é estudado por todo o mundo e esquecido por quem tem a obrigação de lembrar.

                                          Marcos Maciel, parente de Antônio Conselheiro

Em uma casa simples na Rua Bejamin Barroso mora um dos parentes de Antônio Conselheiro. Marcilio Maciel tem hoje 74 anos e conta como era as histórias contadas pelo seu pai, Antônio Carlos Maciel sobre o Beato. Segundo Marcilio Maciel sua bisavô, Dona Francilina Carlos Maciel foi quem acompanhou toda a vida de Conselheiro e seu pai incentivado pelas historias que escutava sempre procurava ler sobre seu parente.  Marcilio Maciel também está preocupado com a pouca divulgação sobre Antônio Conselheiro em Quixeramobim, Segundo ele a falta de interesse dos jovens por esse filho ilustre é de responsabilidade das escolas, “as nossas crianças não conhecem a história de conselheiro, temos que trabalhar encima desses jovens que devem ser incentivados para procurar conhecer algo tão próximo e de grande importância para a história do Brasil. Gostaria muito que a Prefeitura ou até mesmo o estado adquirisse livros para nossas escolas para um incentivo maior aos alunos”.
        Memorial Antônio Conselheiro

A Casa onde nasceu Antônio Conselheiro hoje sedia a Secretaria de Cultura  e Turismo e ainda mantém um pequeno acervo de fotos referentes ao episódio de Canudos e duas telas de artistas locais com essa temática. O Centro Cultural, idealizado no final da década de 1990 pelos jovens do MAC (hoje integrantes do IPHANAQ) e pelo arquiteto Fausto Nilo sofreu perdas no Memorial (correspondente à rampa) onde a cronologia da vida de Conselheiro ilustrava as visitas guiadas, e no restante do edifício funciona um programa da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado - o Pro - Jovem, no espaço que fora destinado à Biblioteca Municipal. Resta ainda o Teatro, mas sua programação quase nada inclui o conselheiro; há uma Ilha digital e o espaço para eventos que é mais utilizado como quadra de jogos pelos jovens da vizinhança.
 O mato toma conta da parte externa onde ainda existem alguns bonecos representando Conselheiro e seu povo sem nenhum cuidado, sendo destruido pelo tempo.  

A falta de reconhecimento já vem sendo observado há muito tempo. Em 2006 a secretária de cultura daquele ano, Terezinha Oliveira, tentou emplacar um movimento para lembrar a data natalícia de Conselheiro, mas segundo a mesma as dificuldades foram enormes. Naquele ano, Terezinha Oliveira escreveu um artigo explicando as dificuldades encontradas. Segundo ela o mundo estuda e reconhece o que Quixeramobim ainda não enxerga que é o gigante valor deste missionário.

Artigo escrito em 2006 por Terezinha Oliveira

Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu em Quixeramobim.
Mas Quixeramobim é a Terra de Antônio Conselheiro?
Tudo indicaria que sim: seu batistério, os registros da hipoteca do imóvel onde nasceu e viveu até a falência dos negócios e mudança de domicílio e atividade, aos 27 anos.
Entretanto esta figura ímpar da história do Brasil, que sonhou e provou ser viável a construção de uma comunidade onde as pessoas viveriam em paz e com a distribuição igualitária dos frutos deste labor, respaldados pela fé e seguindo o principal mandamento do Criador: “amai ao próximo como a ti mesmo”, ainda não recebeu de seus conterrâneos o reconhecimento devido.
A Casa onde nasceu hoje é patrimônio histórico por lei estadual, pelo feliz acaso de ter pertencido à uma família que sabe reconhecer os verdadeiros valores de uma coletividade. Mas oportuno é que um desses últimos moradores, o arquiteto e compositor Fausto Nilo empenhou-se neste propósito, assim como é projeto dele o Memorial Antônio Conselheiro, o maior espaço cultural da Cidade. Também existe uma rua com o seu nome.
Nos anos 90 alguns jovens iniciaram um movimento que se propunha a promover discussões e disseminar o valor deste conterrâneo que extraindo do semi-árido nordestino o alimento corporal e propagando o alimento espiritual, vai se transformando na figura do Bom Jesus Conselheiro, e continua cada vez mais presente no sertão baiano, apesar das águas do Cocorobó terem coberto o palco do episódio no qual ele foi o principal personagem – A Guerra de Canudos.
Hoje os remanescentes deste grupo e outros profissionais liberais,especialmente os historiadores, junto a algumas pessoas ligadas ao movimento pastoral, continuam a trabalhar das mais diversas formas na desconstrução do preconceito contra este missionário que levava o evangelho às longínquas áreas não freqüentadas pelos padres. Mas ele foi alijado pela Igreja Católica quando o Governo o declarou inimigo, em resposta aos interesses dos latifúndios que perdiam mão de obra para o êxodo de seguidores do Profeta do Sertão, que um dia saiu da Vila Nova de Campo Maior de Quixeramobim por ter fracassado no matrimônio e no comércio, mas com a grandeza dos seres iluminados pela palavra Divina, dedicou-se aos irmãos desvalidos, sem ser pedinte ou parasita que vive de verbas públicas ou doações.
As comemorações do 13 de Março em 2006, promovidas pela administração municipal, através da Secretaria de Cultura e Turismo buscaram (in)formar nossos estudantes acerca do valor daquele que atrai inúmeros estudiosos à nossa Cidade e acredito que a semente foi plantada e que um dia quixeramobim se torne a terra de Conselheiro.
Mas dois aspectos a lamentar na atualidade: os eventos no Memorial – show artístico e mesa redonda não tiveram o apoio dos dirigentes educacionais e na celebração eucarística a vida e obra de Antônio Vicente Mendes Maciel foi exaltada em canções, nas ofertas e em orações da assembléia, mas o jovem celebrante, ordenado padre em novembro último nem sequer citou o nome daquele que fez de sua vida a tradução do evangelho, que ao invés de cobrar dízimo oportunizava casa e trabalho aos homens e mulheres de fé que buscaram em sua “Canaã” uma vida simples, mas honrada.  







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