ALEX PIMENTEL
Ninguém sabe ao certo quantos são, mas pelo Interior do Ceará não é raro de se ver pessoas com um hábito bem peculiar, o de colecionar objetos. Não importa o tamanho, o valor, tem sempre alguém dedicando um pouco da sua vida, às vezes até mais, a esse hobby bem pessoal. Na maioria das vezes, gente simples, escondida no anonimato, mas guardando com carinho e zelo verdadeiros tesouros do nosso cotidiano, sem a menor pretensão de se aproveitar de suas riquezas materiais. A dedicação acaba se tornando atração para curiosos.
O comerciante João Viturino da Silva, 72 anos, é um desses colecionadores. Começou a juntar "cacarecos", como ele mesmo define as peças de seu acervo, no seu pequeno comércio, um bar situado na Vila do Distrito de Nenelândia, a cerca de 50Km do Centro de Quixeramobim. Quando se deu por conta da mania de juntar coisas velhas, já havia montado um museu, literalmente. Além dos aperitivos, seu acervo se transformou na principal atração da freguesia e do lugar. E realmente não há quem não se admire com as "esquisitices" espalhadas pelo chão e pelas paredes.
A diversificada coleção começou com a bacia de batizado da antiga Igreja da Barra do Valentim, um vilarejo submerso nas águas do Açude Arrojado Lisboa, de Banabuiú. Quando soube da inundação, há 45 anos, resolveu ir buscar o artefato de metal no qual foi batizado. De lá para cá, não parou mais. Vendeu até sua motocicleta para comprar relógios de parede, telefones, máquinas fotográficas e mais um bocado de coisas. A coleção ficou enorme.
Ele mesmo costuma ser o guia do público curioso, na maioria das vezes crianças, filhos de quem passa pelo pacato lugarejo a passeio. Quando "Seu Viturino", como é mais conhecido, está ocupado atendendo a clientela, é a esposa, Maria Deusanira, quem exibe as peças e conta a história do museu. "O que é aquilo? E aquela coisa esquisita? Isso não morde?". Os mais buliçosos tocam em tudo. Nessas horas é ficar de olho porque alguns querem levar qualquer coisa como suvenir. Vez por outra desaparece algum objeto. Vitorino coleciona dezenas de celulares, de cartões telefônicos. Estão à mostra em um enorme painel, ao lado da coleção de canetas e de dinheiro. Tem até pedaço de asa de avião pendurada numa parede do bar. Mais interessantes são os dois ninhos de oboé, pequenos pássaros sertanejos.
Falando em cartões telefônicos, quem possui uma coleção de causar inveja é a costureira aposentada Marlete Pereira Oliveira, 62 anos. Há mais de três décadas começou a se dedicar ao hábito. Quando se deu por conta, já estava com 13 álbuns e mais de oito mil cartões personalizados, utilizados nos orelhões. Ela se orgulha de algumas coleções temáticas especiais, a principal delas, do seu maior ídolo, o tricampeão mundial de Fórmula 1, Ayrton Senna. A coleção tem valor sentimental, mas pelo dinheiro gasto e praticamente a extinção dos cartões, avalia a coleção em mais de R$ 70 mil. Entretanto, não vende.
O gosto de colecionar levou alguns amigos de Marlete a admirá-la, ao ponto de começarem a lhe presentear com selos postais. De repente, estava com mais uma coleção. Hoje, são mais de 800 selos, o mais importante deles, o do "Orgulho de ser quixadaense", emitido em 27 de outubro de 1999, tendo o Açude do Cedro como destaque. Guarda tudo com cuidado e carinho. Pretende um dia expor ao público. Ela só não sabe mesmo o que fazer com os discos de vinil encostados no canto do armário. A vitrola não funciona mais. É tudo no CD ou DVD.
Música
Pensando nos avanços tecnológicos, o radialista Getúlio Câmara, uma das vozes mais emblemáticas da radiodifusão do Sertão Central, está digitalizando todo o acervo da Difusora Cristal, herança do pai Fanelon Câmara. Pelas contas dele, são mais de quatro mil discos de cera, alguns muito raros. Ele quer catalogar tudo e até ampliar a coleção formada ao longo dos anos de ouro do rádio. A coleção tem valor inestimável, conquistada por meio de anos de amor à transmissão das ondas sonoras.
Quem também é apaixonado por rádio é o facilitador funerário Robson de Menezes Araújo, 28 anos. Sempre teve gosto por colecionar objetos. Ele foi um dos incentivadores da amiga Marlete Oliveira. Era quem levava os amigos para negociarem com ela os cartões telefônicos. Mas, nas suas andanças pelo sertão, sempre batendo na porta dos outros para negociar as dívidas dos planos funerários, aparecia até proposta de trocar prestação vencida por qualquer coisa.
COLEÇÕES
Museus são os mais populares do mundo
Segundo estudiosos, colecionador é a pessoa ou instituição que faz coleção de objetos, podendo ser assemelhados tais como selos, moedas e livros, ou até os mais variados possíveis, como os encontrados em um museu. Mas não se sabe ao certo o período quando o ser humano começou esse hábito. A hipótese mais aceita é que tenha começado com artefatos utilizados na pré-história. O museu é considerado o mais popular colecionador em todo o mundo. De uma sala a uma enorme edificação, quando expostas, as peças formam uma coleção. O mais famoso deles é o Museu do Louvre, em Paris. Desde sua fundação, na era napoleônica, até os dias atuais. Um dos objetos mais valiosos é Mona Lisa pintada por Leonardo da Vinci.
Desenvolvida pelo italiano Guglielmo Marconi, mas tendo o inventor Nikola Tesla recebido o reconhecimento da Suprema Corte Americana, pelo mérito da criação do rádio, no fim do século XIX, chegou ao Brasil pelo padre Roberto Landell de Moura. E logo foram surgindo modelos de receptores, a ponto de formarem enorme coleção.
Selos
Já quem se dedica a coleção de selos é conhecido como filatelista. Apesar de diferenças entre os vários tipos de coleções, além do que foi dito, um único ideal une os filatelistas de todo o mundo: a vontade de conhecer sobre um lugar, objeto, País etc.
Alex PimentelColaborador
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