NATINHO RODRIGUES
A aventura radical deste domingo vai levar você para o melhor lugar do mundo para a prática do voo livre. No entanto, você vai se surpreender quando descobrir que esse lugar fica a apenas 170km da Capital cearense e também é bastante conhecido por seus monólitos de pedra, onde o mais famoso lembra uma galinha choca. Estamos falando do município de Quixadá e é pra lá que nós vamos em mais uma aventura radical.
E para nos explicar os segredos e as principais particularidades que atraem pilotos do mundo inteiro para esse pacato município do Sertão Central cearense, conversamos com Antônio Carlos Almeida, um pioneiro dos esportes radicais no estado.
Nossa aventura começa em uma localidade chamada Juatama. Foi lá que encontramos Antônio Carlos Almeida, um sujeito simpático, que em nada lembra os atletas de esportes radicais da atualidade. Foi ele quem nos apresentou ao local, nos levou até a rampa de salto dos parapentes e das asas deltas que fica situada nas dependências do Resort Pedra dos Ventos, de propriedade sua.
Logo na subida, o visitante experimenta a adrenalina do local, principalmente aqueles que nunca ali estiveram. A estrada é tão íngreme que só é possível encará-la de 4x4 na tração reduzida e mesmo assim, qualquer erro pode ser fatal. Entretanto, todo medo se transforma em contemplação quando se chega ao cume da montanha, local dos saltos que fica a 550m acima do nível do mar. O visual exuberante da fauna, da flora e das esculturas naturais entalhadas nas pedras pela ação das intempéries naturais por milhões de anos, é de tirar o fôlego.
Depois de alguns minutos inebriado pela vista, chegou a hora da ação começar. Mesmo como simples espectador, a visão da rampa de decolagem das asas deltas era algo muito assustador. Imagine algo como um grande escorregador que arremessa você em uma queda de 300m, que é a altura do desnível para o pouso oficial. A decolagem de asa delta tem algumas particularidades, como por exemplo, é necessário um vento com no mínimo 24km/h passando pela asa para que ela tenha sustentação e não entre em "estol", que é quando o vento não tem força suficiente para manter a asa planando. Daí a tensão na hora da decolagem, pois, vai que o vento diminui mesmo na hora da corrida na rampa?
O escolhido para fazer uma apresentação foi um atleta que tem nada menos que 21 anos de prática em voos de asa delta, Paulo ´Cana´ Sérgio.
Saiba Mais
Material
Construída basicamente a partir de canos de alumínio, um velame e cabos de sustentação, a Asa Delta é um esporte bem mais seguro do que muitos outros. Apesar do alto risco, a incidência de acidentes é baixíssima
Decolagem
A decolagem é o momento mais crítico desse esporte. Fazer um equipamento mais pesado que o ar voar nunca foi uma tarefa das mais fáceis. E decolar com uma Asa Delta talvez seja um dos momentos mais radicais dentre todos os esportes
Mito
Na mitologia grega, Dédalo, pai de Ícaro, decidido a fugir com o filho da ilha de Minos, onde estavam aprisionados, construiu dois pares de asas utilizando penas presas com cera. No meio da viajem, Ícaro não seguiu os conselhos do pai e ao aproximar-se do sol mais do que deveria, a cera que prendia as penas derreteu fazendo que o filho de Dédalo morresse após cair no mar. Nascia ali o mito que ficou conhecido como "O Sonho de Ícaro", hoje, concretizado por milhares de pessoas em todo o mundo com a prática da asa delta
PECULIARIDADES
Dicas e técnicas da asa delta
Logo que Paulo "Cana" alçou voo, dava pra perceber que gradativamente ele ia perdendo altitude. Até que, de repente, a grande estrutura composta de tecido sintético, canos de alumínio e cabos de aço começou a ganhar altitude.
Segundo nos explicou Antônio Carlos, isso acontece devido às fortes correntes térmicas que ocorrem em Quixadá, que nada mais são que colunas de ar quente que se desprendem do solo e sobem para formar as nuvens. O grande desafio do voo livre é conseguir encontrar essas correntes de ar ascendentes, que são praticamente invisíveis aos olhos humanos. Mas Antônio nos revelou um dos principais segredos dos pilotos que é observar o voo dos urubus, grandes caçadores de correntes térmicas por natureza.
"Onde você enxergar um grupo de urubus voando em círculos, pode ter certeza que ali existe uma térmica. Prestando bem atenção você irá perceber que os urubus não estão batendo as asas. Eles estão suspensos apenas pelas térmicas. É por isso que antes e na hora do voo, sempre estamos observando o voo dos urubus", comentou Antônio Carlos enfatizando que, seguindo esse princípio, é possível decolar dali e seguir para outros estados como Piauí, Maranhão ou Rio Grande do Norte.
Foi aí que uma dúvida surgiu em minha mente: como os pilotos podiam percorrer distâncias tão longas se as correntes levam para cima e ou urubus, o principais caçadores de térmicas da natureza, não saíam do lugar?
"O segredo está em encontrar a térmica e subir o máximo possível nela. Enquanto isso, você já vai visualizando outra térmica que esteja na direção que você precisa tomar. Daí ele começa a subir novamente e o ciclo se repete", desmistificou Antônio Carlos.
GEORGE NORONHA
ESPECIAL PARA O JOGADA
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