1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

terça-feira, 27 de setembro de 2011

CEGO ADERALDO: O POETA ESQUECIDO


Foi batizado em Quixadá, onde dizia ter nascido.

Ele não nasceu em Quixadá, no Sertão Central cearense, mas pela ironia do destino escolheu a Terra dos Monólitos para morar e levar o seu nome aos locais mais remotos deste imenso país continental. Aderaldo Ferreira de Araújo, o popular Cego Aderaldo, nasceu na cidade do Crato. Logo após seu nascimento mudou-se para Quixadá. Aos cinco anos começou a trabalhar, pois seu pai adoeceu e não conseguia sustentar a família. Tomou conta sozinho dos pais. Quinze dias depois que seu pai morreu (25 de março de 1896), quando tinha 18 anos e trabalhava como maquinista na Estrada de Ferro de Baturité, sua visão se foi depois de uma forte dor nos olhos.

Pobre, cego e com poucos a quem recorrer, teve um sonho em verso certa vez, ocasião em que descobriu seu dom para cantar e improvisar. Ganhou uma viola a qual aprendeu a tocar. Mais tarde começou a tocar rabeca. Algum tempo depois, quando tudo parecia estar voltando à estabilidade, sua mãe morre. Sozinho começou a andar pelo sertão cantando e recebendo por isso. Percorreu todo o Ceará, partes do Piauí e Pernambuco. Com o tempo sua fama foi aumentando. Em 1914 se deu a famosa peleja com Zé Pretinho (maior cantador do Piauí). Depois disso voltou para Quixadá, mas, com a seca de 1915, resolveu tentar a vida no Pará. Voltou para Quixadá por volta de 1920 e só saiu dali em 1923, quando resolveu conhecer o Padre Cícero. Rumou para Juazeiro onde o próprio Padre Cícero veio receber o trovador que já tinha fama. Algum tempo depois foi à vez de cantar para Lampião, que satisfez seu pedido — feito em versos — de ter um revólver do cangaceiro.

Tentando mudar o estilo de vida de cantador, em 1931, comprou um gramofone e alguns discos que usava para divertir o povo do sertão apresentando aquilo que ainda era novidade mesmo na capital. Conseguiu o que queria, mas o povo ainda o queria escutar. Logo depois, em 1933, teve a idéia de apresentar vídeos. Que também deu certo, mas não o realizava tanto. Resolveu se estabelecer em Fortaleza em 1942, onde veio a abrir uma bodega na Rua da Bomba. Infelizmente o seu traquejo de trovador não servia para o comércio e depois de algum tempo fechou a bodega com um prejuízo considerável.

Desde 1945, então com 67 anos, Cego Aderaldo parou de aceitar desafios. Mas também, já tinha rodado o sertão inúmeras vezes, conseguira ser reconhecido em todo lugar, cantara pra muitas pessoas, inclusive muitas importantes, tivera pelejas com os maiores cantadores. E, na medida em que a serenidade, que só o tempo trás ao homem, começou a dificultar as disputas de peleja, ele resolveu passar a cantar apenas para entreter a alma.
Cego Aderaldo nunca se casou e diz nunca ter tido vontade, mas costumava ter uma vida de chefe de família, pois criou 24 meninos. A pesquisa da vida deste grande exemplo foi extraído do livro "Eu sou o Cego Aderaldo", prefácio de Rachel de Queiroz, Maltese Editora — São Paulo, 1994.

Uma estátua de obrigado foi abandonada
A história de um povo, só tem sentido quando sua gente preservar o passado, pois, o futuro é essencial, mas em Quixadá, a tradição tem sido silenciada, quem deveria ser vangloriado é “apedrejado” pela falta de conhecimento. As escolas estão esquecendo de injetar nas novas gerações a importância de valorizar aqueles que levaram o nome dessa terra aos lugares mais distantes.

Do velho Cego, que adorava Quixadá, resta apenas uma estátua escondida no términal rodoviário. Lá quem nunca conheceu sua linda história de superação e exemplo, pensa  simplesmente que era um senhor qualquer, ou, um grande politico da terra. Poucos sabem que naquela estátua há expressão literal de um pivete pobre, mas que sua força tornou-se um ídolo da cultura e superação.

Resta saber ao menos quando ele terá um espaço dedicado na terra onde por tanto amor, dizia que tinha nascido em Quixadá.

FONTE: REVISTA CENTRAL

0 comentários: