1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

domingo, 26 de fevereiro de 2012

O ÍDOLO JUVENIL



Só de ouvir falar sobre Nelson Gonçalves, eu já fico entusiasmado. Ele era só uma lenda para mim (ainda é), dele só conhecia algumas músicas famosas que me assustavam por ter tanta dor de cotovelo contida na letra (embora seja eu, um sujeito que curte essa vibe). O que aconteceu foi que quando eu tinha uns 13 anos, curioso para ouvir tudo o que estivesse perto de mim, peguei um cd do Nelson Gonçalves com um amigo emprestado (que agora não lembro mais qual era o cd, nem muito menos quem era o amigo) sei que era um amigo mais velho.

Cheguei em casa, sentei no sofá e coloquei o cd pra tocar satisfeito. Quando eu literalmente viajava na “Volta do boêmio” ouvi a voz sobressaltada de outro amigo (não foi o que me emprestou o cd) era um desses roqueiros bitolados, que me abordou como quem flagra: “O que diabos é isso que tu ta ouvindo?”. Sua cara era de susto, espanto, um quase pavor, por me ver ouvindo aquela música. Então eu respondi com calma e precisão cirúrgica “É Nelson Gonçalves um cara das antigas que faz um samba-canção assim meio punk-undergraund” foi à única classificação que me veio à mente na hora.

Bom, a classificação que dei não faz o menor sentido (ou faz), mas Nelson Gonçalves foi um de meus ídolos juvenis, no mínimo um ídolo fora da época, pois o que geralmente todo mundo da minha geração curtia ouvir era Titãs, Legião Urbana, Cazuza e os Mamonas Assasinas, que eu também gostava, só que de certo modo já entedia (e sentia) que por trás de todo saudosismo cantado por Nelson Gonçalves continha e emanava um grito de juventude (uma juventude passada, claro!), mas  uma juventude perdida entregue as paixões, a dor do amor, a dor de existir, sei lá, não consigo explicar, ele representava para mim o que os escritores da geração beat americana representavam para os jovens americanos que os liam, ah jovem geração america (e brasileira) eu também os enxergava nas  músicas de Nelson Gonçalves decadentes no fundo de um bar, no coração a áurea boêmia.
 
Era assim que me sentia aos 13 anos ouvindo Nelson Gonçalves. Eu fazia parte da contracultura.



Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE.


Cordenador do Projeto Papo Cultural promovido pela ONG IPHANAQ.
 
Escreve aos domingos como colaborador na categoria O SERTÃO


1 comentários:

"É Nelson Gonçalves um cara das antigas que faz um samba-canção assim meio punk-undergraund", rsrsrs era só dizer igual o meu amigo Pessoa: "Essa daí é uma música magoada!"