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domingo, 22 de julho de 2012

O SERTÃO EM PROSA



E como o doce não esconde a tamarindo...

Gosto de árvores, um gostar muito estranho por sinal, em tempos em que a cidade se veste de véus  e se encher de concreto, gostar de árvores hoje é como morar nos Estados Unidos e gostar de futebol, ao invés de preferir basquete ou beisebol. Nunca fui do gostar-coletivo, ou um “mariavaicomasoutras”, quando eu gosto, gosto e pronto, amo independente da moda como aconselha Roberto Carlos numa antiga canção, mas estou falando isso por que recentemente o amigo e poeta Quixeramobinense Luis Costa me fez despertar para a questão de que os tamarindos históricos do centro da cidade de Quixeramobim estão morrendo todos, um a um, pouco a pouco, (se você não sabe porque os tamarindos são históricos, deixe de preguiça e vá pesquisar, recomendo os livros: Vida e Morte no Sertão, do historiador Marco Antônio Villa e o livro do Luis Costa, é claro, Quixeramobim aos olhos de Luis Costa Filho).

Sim, estou temeroso com a recorrente morte/derrubada de mais um tamarindo (algo acontecido há poucos dias no centro da cidade), temeroso que eles venham a desaparecer por completo, já que se derruba e não se planta mais outro no lugar (de jeito nenhum árvore “veia” serve de nada), e a cidade vai se enchendo de mais concreto, e como o doce não esconde a tamarindo, versava Fausto Nilo na bela canção Pão e Poesia - que teve duas gravações espetaculares uma de Simone, e outra do Moraes Moreira - É preciso que nós não “esqueçamos” a tamarindo, essa árvore “veia”, e nessa onda de não esquecer me lembro agora dos versos de Olavo Bilac Olha estas velhas árvores, mais belas/  Do que as árvores novas, mais amigas:/ Tanto mais belas quanto mais antigas,/ Vencedoras da idade e das procelas...”

Voltando ao assunto, é assim, que estamos todos nós quixeramobinenses (veja que não me excluí) os matando com faixas, e para mostrar faixadas de metal luminosas, e o pior são os argumentos cegos que usamos. Uns tem o cinismo de ousar justificar a derrubada dos mesmos com o argumento de que os tamarindos tem sido a causa de acidentes no trânsito, ora bolas, me ponho a perguntar: quantos desses veículos que se acidentaram - se  tiver  havido mesmo algum acidente - estavam sendo conduzidos por um tamarindo? Será que o ser humano contemporâneo (altamente tecnológico) desaprendeu a conviver com as árvores? 

Sem mais lamentações, só me resta saudá-los, como o fez o poeta paraibano Augusto dos Anjos, no poema de reminiscências de sua infância “A sombra dos tamarindos”, :

“Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da Flora Brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!”

         Vida longa aos Tamarindos!


 Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE.
Cordenador do Projeto Papo Cultural promovido pela ONG IPHANAQ.
 
Escreve aos domingos como colaborador na categoria O SERTÃO EM PROSA

1 comentários:

Essa crônica nos leva diretamente ao desamor à Mãe Natureza que é percebido em nossa Cidade. Sempre vejo árvores derrubadas por quem não sabe o que elas representam para a manutenção da VIDA, uma vez que o micro-clima que alivia o calor deste ano de estio se vai com sua copa; experimente ficar uns minutos ao sol e logo vá para baixo da sombra de uma árvore e entenderás um dos agrados que ela nos dá.
Mas indiretamenbte, a crônica aperta na ferida dolorida dos que não têm, não querem e parecem ter raiva de quem tenta preservar a memória dessa Cidade Velha e Bela. Será que vamos virar o Sanatório geral, onde loucos destroem a si próprio. Essa TERRA somos Nós; vamos nos defender