Na exposição "Rio das pedras", que abre amanhã na Unifor para visitação, quase 100 peças em prata, divididas em oito coleções: Sertão, Homem e natureza, Sonho, Rio das pedras, Cactus, Cristais, Majé e Rupestre. "Essa não é uma exposição qualquer. São joias que contam a história de um povo. E uma forma de ver a evolução do design que eu desenvolvo desde 2002, um apanhado geral desse período", explica Antônio. As coleções duram muito tempo. Mesmo as novas peças elaboradas vêm, muitas vezes, do resgate da ideia para uma joia antiga.
A primeira peça idealizada e realizada por Rabelo também está na mostra. "São dois peixinhos feitos com um mineral de cor marrom que eu tirei do Rio Quixeramobim". O desenho sinuoso, sugerindo a forma, se repete na coleção que dá nome à exposição. São braceletes, colares e brincos nos quais o colorido dos minerais se encaixa ao transcorrer do rio.
De nome Quixeré, o colar de espinhos de mandacaru também tem história. De acordo com o artesão, uma referência aos índios que povoavam a região. "Essa peça não é só uma joia, retrata a forma de viver do sertão, além de ter um design bem diferente". A matéria-prima, abundante no sertão, além de resistente possui uma variedade de cores, que torna ainda mais diversificada a produção.
A coleção Majé, também de origem indígena, faz alusão às memórias de Rabelo. "Aqui tem uma fazenda com esse nome, onde eu vi uma cadeira muito antiga, que deve ter mais de 200 anos. Era toda feita de couro e madeira. Isso me inspirou". Com a lembrança do móvel, desenvolveu as peças em couro de bode. Já as mais recentes criações, deste ano, têm ligação com as folhas secas do cenário tão bem conhecido por Rabelo.
Singular
"Ele é um artista local que faz uma coisa não muito comum: faz arte com o adorno, no caso a joia em prata utilizando matéria-prima da região. Além do diferencial do design, é uma produção local. O mínimo que a gente pode fazer é valorizar", afirma a curadora da exposição, Fernanda Rocha.
"Antônio é uma figura fantástica. Uma pessoa simples que tem uma preocupação com a manutenção de suas raízes. Num processo investigativo e criativo, ele descobre diversos materiais, não fica restrito só à pedra e à prata".
A inspiração, de acordo com Fernanda, vem do cenário tão íntimo de Antônio Rabelo. "É a paisagem daquele lugar, o rio de águas verdes e os arredores agrestes, que alimenta o repertório de imagens do discurso elaborado em sua produção. Um discurso sobre a natureza, em que os sentidos apurados de um homem simples estão perfeitamente aptos a captar, em meio a uma profusão de seres e coisas, sob novas formas e molduras".
Rabelo já trabalhou com artesanato em pedra-sabão, fotografia, serigrafia, pintura, escultura, desenho e até com conserto de máquinas de escrever. Atualmente, tem uma pequena fábrica em Quixeramobim, a Ceará Designer, onde junto à família produz as joias em prata, em um processo bastante artesanal. "Essa exposição é pra mim como um sonho. É importante pelo reconhecimento do meu trabalho. Mostra o meu desenvolvimento como pessoa e artista", comemora.
MAIS INFORMAÇÕES
Exposição Rio das Pedras. Abertura da individual de Antônio Rabelo, no Espaço Cultural Unifor anexo. Visitação até 3 de outubro. De terça a sexta, das 10h às 20h, e aos sábados e domingos, das 10h às 18h. Entrada franca.
PÔR SÍRIA MAPURUNGA
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