A nossa gente é o ouro do Quixeramobim | |
Quixeramobim está comemorando seus 154 anos de emancipação política, ocasião em que, como quixeramobiense, não posso deixar de enaltecer a trajetória de nosso município, tão pouco me omitir de algumas observações que considero parte desta história. Em primeiro lugar, quanto nosso município foi adiante. Foram várias conquistas ao longo das décadas. Desde as conquistas basilares, como a construção da barragem, o sistema de abastecimento de água e esgoto, a construção do açude Fogareiro, até as mais recentes, como a implantação do pólo industrial em nosso município. Lamentável, porém, constatar que para alguns nosso município não tenha passado. Lamentável, repito. Não mantemos a cultura de preservar a nossa história e de reconhecer sua importância. Posso dar um exemplo concreto disso: a verdadeira cruzada de destruição dos nossos prédios antigos, como a casa do sr. José Felício, o prédio da farmácia de dr. Pedro Teles de Menezes, dentre outros, que foram ao chão em nome da irresponsabilidade e da falta de uma política de preservação do nosso patrimônio histórico. Somos um município com uma representativa participação histórica na formação do Ceará, mas uma cidade que, infelizmente, tem depedrado seus registros físicos. A forma como é tratada a memória de Antonio Conselheiro não me deixa mentir. Figura das mais importantes da história dos movimentos populares brasileiros, símbolo de resistência e de luta, nosso mártir não tem em sua própria terra natal, o tratamento que lhe é devido. Renegamos, há décadas, Antonio Conselheiro, enquanto mundo afora sua história é estudada, debatida. Em Canudos, na Bahia, onde ergueu sua comunidade, Antonio é sinônimo de orgulho. E relação a economia, tivemos o ciclo do algodão, que trouxe muita riqueza para o município. A decadência dessa cultura veio ao final da década de oitenta, com o despreparo e a ineficiência das políticas públicas, que foi incapaz de combater a praga do bicudo que se alastrou pelo Ceará, dizimando o nosso ouro branco, consequentemente empobrecendo nosso município. Muito se propaga o desenvolvimento de Quixeramobim, quando na realidade o que há é crescimento desordenado. Digo isto porque a população da zona rural tem vindo buscar sua sobrevivência na cidade, causando um inchaço na zona urbana. Como causa disso, temos o abandono do campo, devido a falta de políticas que dêem ao homem do sertão a possibilidade de produzir e de lá permanecer, gerando riqueza e sustentabilidade. Ações governamentais para o campo, tal como posso citar o Projeto Pingo D’água, tão aclamado pelos jornais, poderia ter sido uma solução. Poderia, digo, não fosse apenas um projeto-piloto que, por fim, não atendeu as expectativas de suas próprias ações, vindo a beneficiar apenas alguns agricultores do Vale do Forquilha, enquanto em todo o curso do rio Quixeramobim, tantas culturas ainda poderiam ser implantadas. Água, apesar do município estar situado em pleno semi-árido nordestino, não é obstáculo para isso. Falta, sim, é determinação política de tratar políticas voltadas para o campo, de trabalhar de forma organizada e com compromisso, para reverter esse quadro. Enquanto o campo vai deixando de ser uma opção viável, a cidade incha e passa cada vez mais a apresentar as mazelas do crescimento desordenado, como a insegurança, a baixa qualidade de vida, a deficiência nos serviços públicos e o alastramento das drogas, como a maconha e o terrível crack, que tem sido uma das principais causas da violência e dos crimes registrados em nossa cidade. Do Quixeramobim pacato passamos a geradores de estatísticas de assaltos quase que diários e rota de passagem e distribuição de drogas. A ociosidade tem arrastado nossos jovens por esse caminho destrutivo. Faltam ações pontuais nesse sentido. A educação associada ao lazer é ferramenta eficaz, mas não temos a ação pública cuidando de tais questões. O município precisa de ações concretas, que transformem a vida das pessoas. Na educação, a grande perda de nosso município nos últimos anos foi a Escola Agrícola Deputado Leorne Belém, outrora tida como referência no ensino público municipal. Tratava-se de um centro educacional voltado para a introdução do aluno no universo da agricultura, que veio possibilitar o ingresso de muitos de seus alunos em escolas técnicas, que os capacitaram para o marcado de trabalho. Temos um pólo industrial, mas não podemos basear toda nossa economia nisso. A vocação local é a pecuária, a agricultura e o turismo rural e histórico, áreas para as quais voltando nossas atenções, poderemos diminuir as desigualdades sociais do nosso povo. Somos um município constituído de homens e mulheres de bem, de gente batalhadora, e este é o nosso caminho, o motor que nos leva adiante. Nesses 154 anos, Quixeramobim tem menos motivos para comemorar do que gostaríamos, mas tem também um grande trunfo: a capacidade de superação de seu povo, a coragem de lutar e de construir novos caminhos. Esse é o grande diferencial de Quixeramobim: sua gente. DIRETO AO ASSUNTO SÉRGIO MACHADO FONTE: SISTEMA MAIOR DE COMUNICAÇÃO |
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