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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

HISTORIADOR PESQUISA PROJETO PINGO D' ÁGUA


Programa instituído há 14 anos como política pública na cidade de Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará, o Pingo D´água foi criteriosamente analisado numa pesquisa acadêmica. O autor do estudo, o historiador Crisanto Teixeira, buscou a relação entre a cadeia produtiva e a gestão pública do empreendimento, desenvolvido no Vale do Forquilha, uma comunidade rural situada a 42km do Centro.

Ele pretendia levantar um diagnóstico sobre o programa de produção agrícola através de análise e avaliação sobre os diferentes fatores internos e externos, além dos aspectos positivos e negativos do empreendimento. Na análise do pesquisador, o projeto Pingo D´água está fundamentado no sistema de produção agrícola através da irrigação e prospecção de água, e da produção de alimento para suprir os agricultores familiares assentados no semiárido nordestino.

A sustentabilidade e a preservação do meio ambiente são pontos importantes do trabalho. A metodologia aplicada foi a pesquisa in loco, entrevistas com os atores, além da avaliação de seus indicadores econômicos e sociais. Os resultados do estudo apontam para a organização comunitária, configurando-se como política pública inclusiva para agricultores familiares.

Valorização
Eles convivem com a valorização da atividade, do conhecimento, da cultura, estimulando o aumento do capital social. Os desdobramentos sedimentam a atividade, como proposta inovadora pela mudança de paradigma, ao lançar o desafio da inovação no modo de produção, o qual se consolida à medida que a comunidade é rearticulada com os resultados transformados em fatos concretos.

Segundo Crisanto Teixeira, existem amplas possibilidades para o alargamento do projeto como fonte inovadora, a partir da diversificação da vocação (patrimônio histórico imaterial), introduzido pela vivência do homem do campo com a perfuração de poços tubulares manuais em terras de aluvião, com a oferta de água de qualidade para o consumo humano e animal.

O excedente é destinado à ampliação dos projetos de produção rural, por meio de programa de irrigação, com ênfase na fruticultura e olericultura, beneficiando os assentados às margens do Riacho da Forquilha, compreendendo o espaço geográfico entre o Açude do Riacho Verde e a Barragem da Veneza, no Distrito de Manituba.

Secas
De acordo com Teixeira, até o final do século passado, em virtude da falta de políticas públicas de combate ao problema causado pelas constantes secas, fenômeno milenar que afeta com maior abrangência o Nordeste e, por conseguinte, o Ceará, a região do Sertão Central sempre foi a que mais sofreu com os revezes da falta de chuva.

Ele ressalta o conhecimento empírico dos antepassados, na busca por alternativas em fixar suas moradias, bem como as roças de milho, feijão e mandioca nas áreas de terra localizadas às margens dos rios e riachos, denominadas de terras de aluvião. O custeio financeiro da inovação, através da agricultura irrigada, foi um marco referencial de sustentação, com o aporte de recursos do Banco do Nordeste do Brasil, agência de Quixeramobim. Isso possibilitou maior participação dos agricultores, que, por estarem na atividade irrigada, apresentavam menor risco e custo para o banco.

Contexto histórico
A área onde foi desenvolvido o Pingo D´água historicamente sofria muito com as intempéries climáticas, fato que tornou essa região a mais carente. Nos registros da Prefeitura de Quixeramobim, esse contingente de agricultores foi conhecido como o primeiro a se arregimentar em busca de alimento na cidade, quando, em estado de desespero e fome, praticavam a invasão e o saque ao comércio. Nessas ocasiões, o armazém da Cobal, por ser do governo, era o primeiro a ser saqueado na cidade.

Hoje, o projeto constitui-se num instrumento indutor de proposta que busca a justiça social, modificando uma triste realidade que permeava o sertão do Ceará e, por extensão, Quixeramobim. O clientelismo praticado pelas oligarquias comandava a política eleitoreira dos coronéis, responsáveis pelo atraso, pela corrupção e pela injustiça praticada com maior ênfase no campo, usando o agricultor como massa de manobra, mantendo-o aprisionado no curral eleitoral. "Toda essa transformação teve início com um Pingo D´água", finaliza o pesquisador.

Beneficiados
910

famílias residem na região contemplada pelo projeto, dentre as quais é forte a prática do associativismo. No local, existem 19 associações comunitárias

Fique por dentro
Parcerias são responsáveis por êxito do projeto
O Pingo D´água foi implantado pela Prefeitura de Quixeramobim, em 1998, e é administrado pela Secretaria Municipal de Agricultura e Recursos Hídricos. Inicialmente, o órgão construiu parceria com as Universidades Estadual do Ceará (Uece) e a de Tour, na França, além de ter contratado técnicos agrícolas, que passaram a residir na área geográfica do projeto, intensificando a assistência técnica e a extensão rural.

Da França, vieram vários engenheiros agrícolas, sendo Julien Burte o pioneiro. Ele defendia tese de mestrado na área pesquisada. Em seguida, outros franceses também estiveram na região, alcançando mais de uma centena de estudantes, que se deslocaram para o Vale do Riacho da Forquilha a fim de realizarem suas pesquisas acadêmicas. Além das universidades, também foram construídas importantes parcerias, com destaque para o Sebrae, unidade regional de Quixeramobim.

O Governo do Estado do Ceará também se constituiu parceiro de primeira hora, através dos seus órgãos espalhados na região, dentre eles a Ematerce, escritório regional do Sertão Central, Adagri e, por último, os Agropolos, principalmente, quando fazem uso de novas tecnologias, como a agricultura irrigada, praticada nos polos de desenvolvimento.

Mais informações
Crisanto Teixeira Historiador com especialização em Gestão Pública
crisantoteixeira@gmail.com
Telefone: (88) 9953.6712

Terras agrícolas são supervalorizadas
Com terras férteis, irrigação na hora certa, comercialização eficiente, tecnologia de ponta e políticas públicas disponíveis, os agricultores estão alcançando uma alta produtividade, com gêneros de melhor qualidade

Quixeramobim Na análise acadêmica, as terras utilizadas para os trabalhos da agricultura irrigada estão supervalorizadas no Vale do Riacho Forquilha. Um hectare está custando entre R$ 8.000,00 e R$ 10.000,00, atingindo uma valorização superior a 1000%, se comparado com o preço praticado antes da implantação do projeto.

De acordo com o presidente de uma das associações de produtores, a do Vale do São Bento, Deusimar Cândido Oliveira, a atividade gera, mensalmente, cerca de R$ 1 milhão com a venda dos produtos, tendo como principal destino a merenda escolar, além das feiras de Quixeramobim, Quixadá e a Ceasa.

O interesse dos agricultores pela profissionalização na atividade de produção da banana possibilita a venda de mudas da planta para outros projetos da região. A tecnologia, que chegou com os franceses, depois pelos técnicos agrícolas da Prefeitura e consultorias, geraram um alto nível de conhecimento técnico.

Conforme Teixeira, o estudo identificou o potencial hídrico de Quixeramobim com água acumulada para produzir três ou quatro vezes mais. Avalia que isto será uma questão de tempo, ou seja, com a consolidação da vocação, a cultura naturalmente vai mudando, e propiciará a aliança com a tecnologia de produção irrigada.

O pesquisador explica que, na opinião da comunidade, esse é o caminho a seguir, com a tendência natural para cultivar em áreas menores, porém, com maior produtividade. Dessa forma, com terras férteis, irrigação na hora certa, comercialização eficiente, tecnologia de ponta e políticas públicas disponíveis, os agricultores estão alcançando uma alta produtividade e, como consequência, um produto de melhor qualidade, voltado para atender o mercado que se torna dia após dia mais exigente.

Inovação
Por conta do programa Pingo D´água, a Associação dos Produtores recebeu premiação por alternativa viável para o semiárido brasileiro. Diante disso, os agricultores conheceram outras experiências, participando de feiras nacionais e internacionais. Deusimar de Oliveira foi a uma feira da agricultura familiar, em Bolonha, na Itália. A partir de então, abriu os olhos para a parte da sustentabilidade do negócio, sem o uso de agrotóxicos.

Outro importante suporte encontrado pelo estudioso foi a consultoria prestada pelo Sebrae a Associação dos Produtores do Vale do Riacho do São Bento. Através da assistência, a associação conseguiu desenvolver o marketing aplicado à atividade. Foi criada uma marca para os produtos, denominada de "Frutos do Sertão".

Avanços
Teixeira informa que o Perfil Básico de Quixeramobim, em 2010, editado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), mostrou avanços em diversos setores. No Programa de Saúde da Família, a comunidade do Riacho da Forquilha apresenta, nos últimos quatro anos, índice zero na mortalidade infantil, antes considerada um grave problema para o poder público local. O Produto Interno Bruto (PIB), em 2004, foi de R$ 197 milhões, subindo para R$ 278 milhões em 2007.

O desenvolvimento da atividade da fruticultura irrigada para outras comunidades do Município ainda deve demorar, porque a maioria dos trabalhadores está voltada para a bovinocultura de leite, o que faz de Quixeramobim a maior bacia leiteira do estado do Ceará. Mesmo assim, o estudo sugere o crescimento substancial da aptidão do capital humano pela fruticultura irrigada na próxima década, levando em conta as políticas públicas, como a construção de redes de energia elétrica em 100% das áreas propícias para o desenvolvimento da irrigação, assistência técnica e extensão rural.

A vendas dos produtos cultivados nessas áreas geram, mensalmente, cerca de R$ 1 milhão. São comprados por escolas e feiras

Segundo pesquisa, o potencial hídrico de Quixeramobim tem capacidade para produzir até quatro vezes mais do que atualmente

ALEX PIMENTEL
COLABORADOR

MATÉRIA PUBLICADA NO JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE


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