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domingo, 16 de setembro de 2012

O SERTÃO EM PROSA:"SOLIDÃO SEM LAMPARINA"

Imagem: Internet
Como muito bem dizia o cronista Antônio Maria, só há uma vantagem na solidão: poder ir ao banheiro com a porta aberta.

A cidade, a rua, a casa, o ar, o colo, a cama, o corpo e principalmente a multidão nos acumula um apelo desesperado de angústia. É como estar apaixonado, nada além da pessoa amada sensibiliza. É como a morte, nada além do silêncio que desespera.

Quando eu era criança viajava para fazendas, para "o interior" como se diz nas pequenas cidades do Ceará,e no caminho de terra seca passava por casas no “meio” do mato, lá longe, onde a luz da lamparina afastava ao solidão ao unir as pessoas ao seu redor. Lembro que ficava imaginando como seria a vida daquelas pessoas, que as crianças não conheciam o computador, não brincavam de videogame, e não conheciam a TV que alegrava minhas manhãs com seus desenhos animados, que alimentava meus sonhos, mas não alimentava os sonhos deles. Lembro que pensava com minha inocência infante “Vixiii, e eles só não brincam, não? Eles se divertem?”.

Hoje adulto vejo que a solidão daquelas casas era minha. Quando observo o cotidiano das pessoas que não vivem na zona urbana entendo os valores que eles trazem no coração. O aconchego, a mesa farta, a contemplação do sol nascendo, a família reunida para a sopa ao entardecer, as verdades que são para sempre na união em torno da luz daquelas lamparinas.

Acredito que eles se sintiam menos sós do que eu e meu celular com mais de quatrocentos números na agenda. Do que eu e meu facebook com mais de oitocentos “amigos”. Do que eu e meu twitter com meus mais de duzentos seguidores. Do que eu e minha TV com mais de cem canais, eu e meu MSN, meu Skype e todas as palavras, todos as letras, todos os dígitos, todas as noites.

Hoje não há entendimento com a solidão. Também não há mais lamparina.
 Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE E Autor do livro “Lá nas Marinheiras e outras crônicas”.


Escreve aos domingos como colaborador na categoria O SERTÃOEM PROSA


1 comentários:

uIniciei a leitura achando que o Bruno tava enganado: não havia ainda aquelas tecnologias; mas era eu que tava raciocinando na minha escala de tempo, qdo na cidade a luz apagava às 22:00 hs. e para continuar lendo só com a boa lamparina. Mas, Bruno na sua crônica encontrei os meninos pintados pelo Farney (artista que precisa ser descoberto) e eles se divertem com o que a natureza lhes oferece e diferente do Fausto vão descobrindo ninhos e ...a mata fica menos sonora.